Preocupado com as questões mais gerais sobre
o comportamento inteligente, o renomado pesquisador da Universidade de Yale,
Robert Sternberg (1996) desenvolveu a Teoria Triádica da Inteligência. Segundo
este pesquisador, os testes de QI não são válidos para medir o tipo de
inteligência exigida para o sucesso no mundo real, como por exemplo, para a
carreira profissional de uma pessoa. Para Sternberg, o comportamento inteligente
é muito amplo, não sendo passível de ser medido da forma tradicional. Ele
argumenta que a pessoa pode ser inteligente de três formas: pelo uso de uma
inteligência analítica; ou pelo uso de uma inteligência criativa; ou ainda pelo
uso de uma inteligência prática. Vamos considerar cada uma dessas inteligências
em relação à criança em seu percurso de desenvolvimento.
A criança que se destaca por
sua inteligência analítica é aquela que, em geral, o professor gosta de ter em
sala de aula: academicamente brilhante, tira boas notas nos testes, aprende com
facilidade e com pouca repetição, tem facilidade em analisar as ideias,
pensamentos e teorias. Gosta de livros e muitas vezes aprende a ler sozinha ou
com pouca instrução. A escola tradicionalmente reforça as habilidades
analíticas de seus alunos, ao acentuar a memorização e reprodução dos
conhecimentos, muitas vezes em detrimento da aplicação e do ensino de técnicas
para o desenvolvimento do pensamento criador. Assim é que a pessoa
essencialmente analítica muitas vezes carece de idéias novas e originais e pode
ter dificuldade em um ambiente que exija respostas diferentes e incomuns.
Já a criança que se destaca
por suas habilidades de pensamento criativo apresenta, em geral, talentos e
dificuldades opostos. A pessoa com inteligência criativa nem sempre tem as
melhores notas e nem sempre se destaca na escola por suas habilidades acadêmicas.
No entanto, demonstra grande imaginação e habilidade em gerar ideias
interessantes e criatividade na forma de escrever ou falar e de demonstrar suas
aptidões e competências. Essa criança tende a ter independência de pensamento e
de ideias, a ver humor em situações que nem sempre os outros percebem como tal
e são muitas vezes consideradas o “palhaço da turma”,
A terceira forma de ser
inteligente, conforme Sternberg, leva em consideração a facilidade da criança
em se adaptar ao ambiente e desempenhar atividades que são adequadas para o
desenvolvimento de uma tarefa. A criança demonstra inteligência prática e senso-comum,
sendo capaz de chegar a qualquer ambiente, fazer um levantamento do que é
necessário para atingir algum objetivo prático, e executar sua tarefa com
precisão.
À medida que ganha experiência de vida, a pessoa
prática demonstra esta inteligência com mais intensidade, o que a permite lidar
com as pessoas e conseguir que um determinado trabalho seja executado,
percebendo o que funciona e o que não funciona. É a inteligência prática ou
conhecimento tácito que, no contexto de vida prática, é responsável pela melhor
adaptação da pessoa ao ambiente e para o sucesso no mundo real, principalmente
no desempenho profissional.
Tomemos o exemplo de um
professor. É desejável que, para o sucesso de sua profissão, o professor tenha
bem memorizado os conhecimentos relacionados à disciplina que ensina; é também
desejável que aplique técnicas instrucionais com criatividade e imaginação;
além disso, a forma com que utiliza o currículo deve ser adaptada ao contexto
da sua sala de aula, às necessidades individuais de seus alunos e às demandas
sociais da sua população estudantil.
Conclui Sternberg que os
tradicionais testes de inteligência poderão ser bons preditores de sucesso do
aluno na sua vida acadêmica, mas terão pouco impacto na predição do sucesso na
vida prática e no ambiente de trabalho, que exigirão outras formas de
inteligência não abarcadas pelos testes. Para serem justos para com a
inteligência a ser medida, há necessidade do uso de outros tipos de testes, que
não só os de lápis-e-papel, e que sejam mais amplos e flexíveis.
Fonte:
VIRGOLIN, Angela. Altas Habilidades/Superdotação:
Encorajando Potenciais. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de
educação Especial, 2007.
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