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sono de ondas lentas ou profundo
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sono paradoxal ou sono de movimentos rápidos dos olhos (REM-Rapid Eye
Movements)
O
sono de ondas lentas é repousante para o físico porque neste período a pressão sanguínea
cai, os vasos sanguíneos se dilatam, os músculos ficam preponderantemente
relaxados e a taxa do metabolismo basal cai de 10 a 30%. Ocorre a liberação do
hormônio do crescimento (GH) que promove o crescimento, a renovação e reparação
dos tecidos do corpo. Privação do sono profundo provoca redução do hormônio do
crescimento na corrente sanguínea e faz com que o sujeito se sinta cansado,
deprimido e com mal estar.
No sono REM (ocorre na segunda
metade de noite) o cérebro está altamente ativo e seu metabolismo global pode
estar aumentado em até 20%. Os sonhos que acontecem durante o sono REM estão
intimamente ligados à consolidação da memória e à aprendizagem, pois nesta fase
são ativados mecanismos que originam novas sinapses, possibilitando o acesso, a
otimização ou a formação de novos circuitos neuronais relacionados à memória.
A
necessidade de sono varia no decorrer da vida. Conforme AJURIAGUERRA &
MARCELLI (1986) um recém-nascido dorme em média 16 a 17 horas por dia, em
frações de 3 horas. A partir dos 3 meses, dorme 15 horas por dia, com as fases
mais longas de sono ocorrendo durante a noite (até 7 horas consecutivas), e
fases prolongadas de vigília durante o dia. A quantidade de sono diminui
progressivamente: 13 horas por volta de 1 ano; 12 horas entre 3 a 5 anos; 9
horas e 30 min entre 6 e 12 anos; e 8 horas entre 13 e 15 anos. É preciso
ressaltar ainda que na vida adulta, os indivíduos são classificados em
pequenos, médios e grandes dormidores. Os pequenos dormidores cumprem com todas
as funções do sono em um período de 5 a 6 horas. Os médios dormidores
necessitam de 7 a 9 horas, e os grandes dormidores necessitam de 10 a 12 horas.
Inúmeras pesquisas têm mostrado que a maioria da população se enquadra como
médios dormidores.
Entre
os adolescentes, por uma questão hormonal, há aumento significativo no número
de horas de sono. Além do mais ocorrem também nesta fase um mecanismo
denominado poda neuronal, cuja finalidade seria eliminar sinapses antigas, para
preparar para novos circuitos. Ao investigar-se as causas de dificuldades de
aprendizagem, deve-se incluir um levantamento sobre as condições de sono do
aprendiz. Um sintoma clássico da privação de sono é deitar-se no horário
habitual e levantar-se muito tarde aos finais de semana. O “problema é que
essas esticadas” de fim de semana não funcionam. É sabido cientificamente que
alguns estágios de sono não podem ser compensados.
A
vigília prolongada e a privação do sono REM estão frequentemente associados ao
mau funcionamento progressivo da mente. Num primeiro momento, ocorre lentidão
do pensamento e, posteriormente a pessoa pode se tornar irritável e até mesmo
psicótica.
Adultos
e crianças com privação de sono têm dificuldade para aprender. Isto decorre,
como já vimos de alterações de curso do pensamento, da afetividade, da atividade
voluntária, da atenção e também da memória. Em termos práticos, se estamos
cansados e privados de sono, nosso pensamento se torna lento e confuso. Os
níveis de instabilidade afetiva que se instalam com a privação de sono vão se
tornando incompatíveis com a mobilização da vontade de estar atento. A falta de
atenção, por sua vez, somada à lentidão do pensamento, compromete todas as
fases do processo de memorização, com sérias repercussões para a aprendizagem.
Tais repercussões devem-se à necessidade do sono profundo por ser este
repousante para o físico. Por outro lado, o sono REM tem importante função na
memorização.
Outra
questão que deve ser compreendida é a dos cronotipos (OSTEBERG, 1976; CARDINALI
AET AL., 1992). É sabido que na população existem três diferentes cronotipos:
matutinos, intermediários e vespertinos. Os matutinos acordam cedo e dormem
cedo. São muito produtivos para os trabalhos físicos e mentais no período da
manhã e boa parte da tarde. Porém, no período noturno, em especial, após as 21
ou 22 horas, têm grandes dificuldades para se manterem acordados. Os
vespertinos dormem tarde e acordam tarde. Em compensação, são muito produtivos
à tarde e a noite. Os intermediários situam-se entre os dois tipos anteriores.
É
importante saber que os horários de dormir e acordar estão diretamente
relacionados à produção de diferentes hormônios, como a melatonina, cortisol,
hormônio do crescimento.
Na
vida adulta, os vespertinos representam aproximadamente 10% da população. Um
dos problemas dos vespertinos é que o sujeito vai deitar-se muito tarde, pois a
melatonina, hormônio que dispara o gatilho para dormir sofre uma defasagem no
momento de sua produção.
Como
a maioria das escolas não oferece turmas vespertinas para as últimas séries do
ensino fundamental e para ensino médio surge um problema bem conhecido, retirar
o adolescente vespertino da cama e mantê-lo acordado. Na verdade, estes alunos
vão para a escola quando ainda deveriam estar dormindo, pois, se a sua noite de
sono iniciou-se às 2 horas de manhã, às 6 horas ele está começando a segunda
metade que deveria estender-se até 10 ou 11 horas. Nesta fase, iria ocorrer a
intensificação do sono REM e os processos de consolidação da memória, além da
importante testagem das vivências através do processamento onírico. No entanto,
o aluno tem seu sono interrompido para ir à escola, pois existe uma crença
generalista de que pela manhã a aprendizagem se processa com maior facilidade.
Esta crença não chega a ser errada. O que está incorreto é o conceito de manhã.
É preciso diferenciar a manhã ambiental, marcada pelo surgimento do sol, da
manhã de cunho biológico, que ocorre no organismo de cada indivíduo. Pode-se
dizer que para os sujeitos matutinos a manhã biológica coincide com a ambiental
enquanto para os vespertinos isto não ocorre, pois a manhã ambiental ocorre
enquanto eles ainda se encontram na segunda metade da noite de sono.
O
período que precede o acordar é fundamental para a redução do estresse, pois
nele se intensifica o sono REM e, durante esta fase, cai drasticamente a produção
de adrenalina. Além disto, uma ou duas horas antes do horário de acordar
aumenta-se a produção do cortisol, o hormônio antiestressante, que vai nos
preparar para enfrentar os desafios de um dia. Ao acordar, intensifica-se a
atuação do hormônio tireoidiano provocando uma elevação no metabolismo celular
e aumentando a disponibilidade de energia para as atividades físicas e mentais.
Também a serotonina, importante substância relacionada ao processo de atenção e
estado de ânimo tem seu pico cerca de duas horas após o horário ideal de
acordar. Logo, o período da manhã realmente é muito bom para aprender, desde
que se tenha a compreensão de que para os matutinos a manhã se inicia por volta
de seis ou sete horas enquanto para os vespertinos por volta do meio dia.
Se
por um lado levantar-se cedo é causa de privação de sono para os vespertinos,
deitar-se tarde é a principal causa para os matutinos. Estes têm que compreender
que não são biologicamente compatíveis com estudar madrugada afora ou fazer ginástica
à meia noite.
NEUROPSICOLOGIA: o desenvolvimento da
consciência, aprendizagem e transtorno Prof. Dr. Rafael Bruno Neto