Francisca
Maria Alves de Andrade Sousa
Resumo
A
elaboração deste texto aborda, através de revisão bibliográfica, a necessidade
de os educadores em geral entenderem a normalidade no processo
ensino-aprendizagem para que possam atuar nos problemas e disponibiliza
subsídios teóricos necessários à compreensão para que possa estabelecer o
diagnóstico diferencial entre DIFICULDADES, DISTÚRBIOS e TRANSTORNO da
aprendizagem.
Palavras-chave: Distúrbios. Transtornos. Dificuldade
de Aprendizagem.
Introdução
Ao abordarmos o tema aprendizagem encontramos uma vasta literatura proveniente de diferentes linhas de pesquisa que versam sobre o tema. Desde o século passado, “quando se
tornou objeto de estudo”, perpassando às décadas de 1950 e 1970, “época que
passou a ocupar maior espaço no meio científico”, às
décadas de 1990 a 2000,
a assim chamada, “era do cérebro”. Em meio
a toda essa trajetória, inúmeros conceitos embasaram as reflexões apresentadas
com o intuito de explicar como se dá o processo pelo qual a aprendizagem se
efetiva.
Para autores como TOPCZEWSKI
(2002), a aprendizagem pode ser
traduzida como a capacidade e a possibilidade que as pessoas têm para perceber,
conhecer, compreender e reter na memória as informações obtidas. Enquanto
outros referem que
o cérebro é o órgão onde se forma a cognição sendo,
por excelência, o órgão mais organizado do nosso organismo (MORIN 1996). O que
pressupõe que todo esse processo tem no cérebro a sua matriz, por
ser este o órgão que, segundo a literatura especializada, exerce a função de “controlar
os movimentos, receber e interpretar os estímulos sensitivos, coordenar os atos
da inteligência, da memória, do raciocínio e da imaginação”.
Embora na última
década muito se tenha escrito sobre o funcionamento do cérebro, ainda se
tratava de um conhecimento limitado pela falta de instrumentos de pesquisa. Atualmente,
os avanços e descobertas na área da Neurociência, aliados ao sonho dos
neurocientistas de poder ver o cérebro humano em plena atividade, permitiram o
desenvolvimento de novas tecnologias, como técnicas de neuroimagem, que ajudaram
os pesquisadores a aprofundar os conhecimentos sobre os processos
neurofuncionais. Foram esses estudos que permitiram a compreensão de como a
aprendizagem modifica a estrutura física cerebral, estabelecendo novas conexões
de acordo com as mais diferentes situações de aprendizagem, reorganizando-se de
forma contínua e flexível. Isso ocorre, por exemplo, quando o cérebro aprende
por meio da experiência e da estimulação, num processo que acrescenta ou
elimina as conexões entre as células, causando mudanças na quantidade de
substâncias químicas (neurotransmissores) que exercem a função de transmitir
mensagens ou quando o funcionamento de uma determinada área cerebral se torna
mais ativo. (GÓMEZ & TÉRAN, 2009).
Assim, nesse
processo onde cada estrutura exerce uma função específica no processo de aquisição da aprendizagem, “estabelecendo
conexões e atribuindo significado às informações”, se faz necessário que haja
integridade entre essas funções. Os estudos neurocientíficos categorizam essas integridades
em três níveis de
funções:
· Psicodinâmicas - responsáveis pelo
controle e integridade psicoemocional. A aprendizagem ocorre também pela assimilação através dos processos
psíquicos.
· Funções
do Sistema Nervoso Periférico - responsáveis
pelos receptores sensoriais. O que significa que aprendemos ao receber informações por meio dos sentidos,
principalmente a audição e a visão, por serem estes, considerados os principais
canais para a aprendizagem simbólica.
·
E, Funções do Sistema Nervoso Central - responsáveis pelo armazenamento,
elaboração e processamento da informação, pelas modificações funcionais e de condutas. (Rev.
psicopedag. vol.23 nº. 72, 2006).
As áreas cerebrais envolvidas nesses estímulos
são também descritas pelos estudos na área da neurociência:
· Córtex cerebral, nas áreas
do lobo temporal, recebe, integra e organiza as percepções auditivas;
· As áreas do lobo occipital,
recebe, integram e organizam as percepções visuais;
· As áreas temporais e occipitais se ligam às áreas motoras do lobo
frontal, situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela
articulação das palavras. A circunvolução frontal ascendente é responsável pela
expressão da escrita (grafia);
· A área
parietotemporoccipital é responsável pela integração gnósica, e as áreas
pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções sejam moduladas
pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um. (Relvas, 2010 apud SANTOS e
ANDRADE),
Assim, pode-se considerar que “qualquer
fator que venha alterar o curso natural desse processo, resultará em um
problema na aquisição da Aprendizagem escolar”.
Partindo desse pressuposto, não podemos falar do processo de
aprendizagem sem mencionar
os processos neurobiológicos nele envolvidos e da necessidade de contextualizá-lo no meio educacional. Estudos
referem que se faz necessário que o professor compreenda que existe uma
biologia, uma anatomia e uma fisiologia no cérebro que aprende. E que, para
tanto, a neurociência tem contribuído muito, não só para melhor entendermos a
diversidade cerebral, mas, sobretudo, para as práxis em sala de aula, na
compreensão das dimensões cognitivas, motoras, afetivas e sociais, no
redimensionamento do sujeito aprendente e nas suas formas de interferir nos
ambientes pelos quais perpassa. E remetem-nos ainda, a uma profunda
reflexão:
O que é neurociência? De que maneira ela vem contribuindo para a
educação no processo de aprendizagem? Como o professor pode traduzir esses
conhecimentos aplicando-os no contexto escolar? A neurociência estuda o sistema
nervoso central em toda sua complexidade. Este novo ramo da ciência estuda
educação e cérebro, entendendo este último como um órgão “social”, passível de
ser modificado pela prática pedagógica (RELVAS, 2009 apud SANTOS e ANDRADE).
Compreendemos, assim como o autor
do estudo que embasa a afirmação, que embora o educador em sua prática
pedagógica cotidiana, faça uso de estratégias que atuam nas transformações
neurobiológicas que produzem aprendizagem, em geral desconhece como o cérebro e
o sistema nervoso como um todo funciona (BARTOSZECK, 2009).
Estudos referem que os termos “distúrbios, transtornos,
dificuldades e problemas de aprendizagem
têm sido utilizados de forma aleatória, tanto na literatura
especializada como na prática clínica e escolar para
designar quadros diagnósticos diferentes” (MOOJEN, 1999 apud
NUTTI). Partindo desse
pressuposto, outros são categóricos em afirmar que uma das contribuições mais
significativas oferecidas pela neurociência, e que merece destaque, para nós
educadores, é a que faz a “distinção entre os termos dificuldades,
transtornos e distúrbios de
aprendizagem, não raramente, usados como sinônimos, mas que têm suas
particularidades”. E, que
“conhecer tais particularidades merece especial
atenção, pois pode, sem dúvida, favorecer a aprendizagem e minimizar os seus
problemas”. O que pressupõe que a formação para a prática docente que contempla apenas as disciplinas “didáticas e
filosóficas”, sem as bases científicas que nos permitem conhecer os processos neurais envolvidos no
processo de aquisição da aprendizagem, abre
lacunas no processo educativo que impede o educador conhecer tanto as razões
neurobiológicas para os sucessos, quanto os problemas para a aprendizagem (PANISSET, 2008).
Baseando-se nos referenciais citados, arriscamos afirmar, que os conhecimentos
neurocientíficos interrelacionados ao processo educacional “abre as portas da
esperança”, fornecendo o conhecimento através do qual, se torna possível
estabelecer o diagnóstico diferencial entre “Dificuldade de Aprendizagem,
“Distúrbio ou Transtorno de Aprendizagem”. Pois, somente nessa perspectiva,
poderemos voltar o nosso olhar para a criança e o
seu entorno, avaliando os diferentes contextos em que ela se insere, antes de
tentar “enquadrá-la” nesta ou naquela “classificação”. Sobretudo, porque
“a presença de uma Dificuldade de Aprendizagem não implica necessariamente em um transtorno ou
distúrbio. (RELVAS, 2009 apud SANTOS e ANDRADE).
Distúrbio ou Transtorno de
aprendizagem?
Assim
como a aprendizagem, os Distúrbios ou Transtornos da aprendizagem têm sido objeto de estudos
de diferentes linhas de pesquisas tornando-se termos recorrentes na literatura especializada. Oficialmente, existem diversas definições, dentre elas destacamos
as seguintes:
National Joint Comittee for Learning
Disabilities (EUA, 1981):
Distúrbios
de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de
alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da
audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas
alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção
do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder
ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo,
alteração sensorial, o retardo mental, distúrbio social ou emocional) ou
influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução
insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas
condições ou influências. (COLLARES
E MOYSÉS, 199, p. 32)
CID – 10 - Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - OMS/1992:
Grupos de transtornos manifestados por
comprometimentos específicos e significativos no aprendizado de habilidades
escolares. Estes comprometimentos no aprendizado não são resultados diretos de
outros transtornos (tais como retardo mental, déficits neurológicos grosseiros,
problemas visuais ou auditivos não corrigidos ou perturbações emocionais)
embora eles possam ocorrer simultaneamente em tais condições (1993, p. 237).
De
acordo com o DSM-IV –
(Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria –
APA):
Os transtornos de aprendizagem são
diagnosticados quando os resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente
administrados de leitura, matemática ou expressão escrita estão
substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização ou nível de
inteligência...Os transtornos de aprendizagem podem persistir até a idade
adulta. (1995, p. 46).
Segundo a Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - CID 10,
elaborado pela Organização Mundial de Saúde:
O
termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar
problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou
“enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a
existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente
reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com
funções pessoais (CID – 10
- 1992: 5).
Características gerais dos Transtornos de aprendizagem segundo o
CID - 10:
Na maioria dos casos, as funções afetadas incluem
linguagem, habilidades visuoespaciais e/ou coordenação motora. É característico
que os comprometimentos diminuam progressivamente à medida que a criança cresce
(embora déficits mais leves freqüentemente perdurem na vida adulta). Em geral,
a história é de um atraso ou comprometimento que está presente desde tão cedo
quanto possa ser confiavelmente detectado, sem nenhum período anterior de
desenvolvimento normal. A maioria dessas condições é mais comum em meninos que
em meninas. (Classificação
de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de
Doenças - 10,
De acordo com o DSM-IV – (Manual Diagnóstico e Estatístico da
Associação Americana de Psiquiatria – APA) os
Transtornos são definidos mediante os seguintes critérios de identificação:
- O
nível de desempenho na aprendizagem deve ser avaliado mediante provas
padronizadas e o resultado deve estar substancialmente abaixo do esperado
para a idade cronológica do sujeito, sua escolaridade e quociente de
inteligência;
·
O baixo nível do desempenho verificado deve intervir
significativamente no rendimento acadêmico ou nas atividades da vida cotidiana
que exigem as habilidades afetadas, como cálculo, leitura ou escrita
- Caso
haja um déficit sensorial, as dificuldades observadas devem exceder as
habitualmente associadas a esse tipo de condição;
Prevenção dos Transtornos de Aprendizagem:
A Prevenção dos Transtornos de Aprendizagem
fundamenta-se especialmente em cuidar do desenvolvimento do cérebro da criança,
de forma harmoniosa e sadia, uma vez que há evidências científicas de que as
lesões ou disfunções podem ser de ordem pré-natal, perinatal ou pós-natal.
- Na
vida intra-uterina: assistência pré-natal (o cérebro já se encontra
formado e completo na vigésima semana de gestação);
- Parto
bem assistido para evitar anoxia e traumatismos;
- Alimentação
e sono adequados são essenciais para a mielinização e maturação dos
centros nervosos;
- Afetividade
no trato com a criança para estimular a produção de neurotransmissores
favoráveis à aprendizagem;
- Estimulação
de todos os sentidos por meio de brincadeiras;
- Apoio,
incentivo e acompanhamento na aprendizagem escolar.
Os dois principais manuais
internacionais de diagnóstico, O DSM-IV (1995) e CID – 10 (1992), em suas
conceituações, apresentam três tipos de transtornos específicos: o Transtorno
da Leitura, o Transtorno da Matemática, e o Transtorno da Expressão Escrita. Atualmente, trabalha-se com a seguinte
classificação para os transtornos na aprendizagem: transtornos da percepção, transtornos psicomotores, transtornos da atenção, transtornos da linguagem, transtornos de conduta, transtornos globais do desenvolvimento – TGDs, e de comportamento disruptivo, e transtornos de conduta.
ZORZI (2004) faz referência ao site
www.schwablearning.org mantido por Charles and Helen Schwab Foundation
(http://www.schwablearning.org/articles.asp?r=25&g=1), organização voltada
para a orientação e ajuda de pessoas que apresentam distúrbios de aprendizagem,
onde encontramos os seguintes dados que, no geral, vão de encontro às
definições anteriormente mencionadas:
O que é um Distúrbio de Aprendizagem? (Learning Disability)
O Distúrbio de Aprendizagem afeta o modo pelo
qual crianças com inteligência média, ou acima da média, recebem, processam ou
expressam informações e que se mantém por toda a vida. Isto prejudica a
habilidade para aprender habilidades básicas em leitura, escrita ou matemática.
A Coordinated Campaign for Learning Disabilities (CCLD), uma coalizão de
organizações nacionais ligadas aos distúrbios de aprendizagem, define-os como
“uma desordem neurobiológica na qual o cérebro da pessoa trabalha ou é
estruturado de uma maneira diferente.”
O que o Distúrbio de Aprendizagem não é:
• Déficit de atenção, tal
como o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Distúrbios de
aprendizagem e TDAH freqüentemente ocorrem ao mesmo tempo, mas não são a mesma
coisa.
• Distúrbio de aprendizagem não é a mesma coisa que deficiência ou
retardo mental, autismo, deficiência auditiva ou visual, deficiência física,
distúrbioemocional ou o processo normal de aquisição de uma segunda
língua.
• Distúrbios de aprendizagem não são causados por falta de
oportunidade educacional como trocas frequentes de escolas, por faltas
constantes às aulas ou falhas no ensino das habilidades básicas.
Quais as manifestações?
Muitas vezes os transtornos de aprendizagem
estão acompanhados de falta de motivação, imaturidade e problemas
comportamentais. Porém, caso a criança apresente dificuldades significativas e
mais duráveis em termos das habilidades básicas de leitura, escrita e
aritmética, o problema deve ser um distúrbio de aprendizagem.
Algumas características:
Fase pré-escolar
• Começa a falar mais tarde do que a maioria das crianças;
• Tem dificuldades para encontrar as palavras apropriadas em
situação de conversação;
• Tem dificuldades para nomear rapidamente palavras de uma
determinada categoria;
• Apresenta dificuldades com rimas;
• Tem problemas para aprender o alfabeto, dias da semana, cores,
forma e números;
• É extremamente agitada e facilmente se distrai;
• Dificuldades para seguir ordens e rotinas.
Fase escolar inicial
• Demora em aprender as relações entre letras e sons;
• Dificuldades para sintetizar os sons e formar palavras;
• Faz erros consistentes de
leitura e de ortografia;
• Dificuldades para relembrar seqüências e para dizer as horas;
• Lentidão para aprender novas habilidades;
• Dificuldades em termos de planejamento.
Fase escolar – séries mais avançadas
• Lentidão para aprender prefixos, sufixos, rota lexical e outras
estratégias de leitura;
• Evita leitura em voz alta;
• Dificuldades com os enunciados de problemas em matemática;
• Soletra a mesma palavra de modos diferentes;
• Evita tarefas envolvendo leitura e escrita;
• Dificuldades para lembrar ou compreender o que foi lido;
• Trabalha lentamente;
• Dificuldades para compreender e/ou generalizar conceitos;
• Confusões em termos de endereços e informações.
Estudos chamam a atenção para o fato de que não
devemos incorrer no risco de “inserir todas as crianças com distúrbio no mesmo
grupo, porque existem inúmeras deficiências que apresentam o distúrbio de
leitura e escrita como resultante de problemas específicos”.
Dificuldades ou problemas de aprendizagem:
Para alguns autores, “o processo de aprendizagem da criança é
compreendido como um processo pluricausal, abrangente,
implicando componentes de vários eixos de estruturação: afetivos, cognitivos,
motores, sociais, econômicos, políticos” (MERCH apud MALUF). O que significa que ao concebermos a
aprendizagem como um processo constituído por diversos fatores, não podemos
aceitar uma causa única como determinante para as dificuldades a ela
relacionadas. O referido estudo versa ainda sobre as principais características
das Dificuldades de Aprendizagem e cita alguns critérios diagnósticos
importantes, tais como:
Principais características das
Dificuldades de Aprendizagem
·
O
desempenho não é compatível com a capacidade cognitiva da criança ou jovem;
·
A
dificuldade ultrapassa a enfrentada por seus colegas de turma sendo geralmente
resistente ao seu esforço pessoal e ao de seus professores, em superá-la,
gerando uma auto-estima negativa;
·
Pode
ser, em grande parte dos casos, diagnosticadas em crianças da pré-escola, por
profissionais especializados evitando-se ou minorando suas conseqüências
futuras;
·
É
geralmente transitória;
·
Pode
ser evitada tomando-se cuidado em respeitar o nível cognitivo da criança e
permitindo que esta possa interagir com o conhecimento: observar, compreender,
classificar, analisar, etc.
Dificuldades
generalizadas de aprendizagem surgem:
·
Na
escola (em geral na troca);
·
Na
família (desorganização, excesso de atividades extracurriculares, pais muito ou
pouco exigentes);
·
Problemas
como drogas, violência, problemas sócios culturais (mudanças);
·
Efeitos
colaterais de medicações que causam hiperatividade ou sonolência, diminuindo a
atenção da criança;
·
Problemas
emocionais.
Diagnóstico das Dificuldades de Aprendizagem:
·
Uma forma predominante nas pesquisas realizadas sobre dificuldades
de aprendizagem é de inferi-las a partir do desempenho acadêmico, seja a
capacidade de leitura, o desempenho na escrita, o raciocínio lógico-matemático
ou problemas com o aprendizado das ciências em geral;
·
Há estudos que relacionam a cognição aos sentimentos que o indivíduo
tem de si mesmo (funcionamento cognitivo e sucesso escolar) = auto-estima x
percepção de habilidades, expectativa de sucesso e fracasso, motivação e
atribuições de causalidade para o sucesso ou fracasso escolar. O autoconceito e
a expectativa acadêmica são mais baixos nas crianças que apresentam DA.
·
O
Diagnóstico envolve interdisciplinaridade em pelo menos três áreas: neurologia,
psicopedagogia e psicologia, para possibilitar a eliminação de fatores que não
são relevantes e a identificação da causa real do problema.
Pesquisas referem que nos últimos anos
o número de alunos com histórico de dificuldades de aprendizagem vem aumentando
consideravelmente. E quando entra em cena o fator “causa”, e, quando estas, não
estão associadas às desordens orgânicas, a família encabeça a lista como um dos
principais fatores. BELLEBONI
(2009) faz referências a alguns autores:
STRICK E SMITH (2001) “ressaltam que o ambiente doméstico
exerce um importante papel para determinar se qualquer criança aprende bem ou
mal”.
SOUZA (1996) “afirma que o ambiente de
origem da criança é altamente responsável pelas suas atividades de segurança no
desempenho de suas atividades e na aquisição de experiências bem sucedidas”.
Para GARCIA (1998) “é possível
conceber a família como um sistema de organização, de comunicação e de
estabilidade”.
Nessa perspectiva, além de considerarmos os
fatores orgânicos e as influências do contexto escolar, surge também à
necessidade de se investigar o contexto familiar. Sobretudo, porque pode ser o
fator principal ou contribuir de forma significativa para o problema de aprendizagem
da criança. Muitos pais costumam responsabilizar os filhos pelas dificuldades e
insucesso escolar. Segundo o DSM-IV (1995),
desmoralização e baixa autoestima podem estar associadas às dificuldades de
aprendizagem. A criança com dificuldades de aprendizagem muitas vezes é
rotulada, sendo chamada de “perturbada”, “incapaz” ou “retardada”. Todos esses
rótulos recebidos pela criança podem acabar resultando em sentimento de culpa,
problemas com a autoestima, reações emocionais negativas e, causando com
freqüência, desinteresse pelos estudos. Existem outros fatores familiares
considerados agravantes para as diversas dificuldades na aquisição da
aprendizagem, tais como: o alcoolismo, as enfermidades, a violência doméstica,
as ausências prolongadas, o falecimento dos pais ou parentes e a separação
conjugal, os assim chamados “transtornos reativos” que podem causar “desajustes”
no processo de aquisição da aprendizagem, dependendo do grau de maturidade da
criança. (ARAÚJO & TAVARES, 2008)
Que
a neurociência tem contribuído de forma significativa para a prática educativa
fornecendo subsídios para que entendamos que “além do aspecto fisiológico
referente ao aprender”, é necessário que haja integridade de “certas” funções
envolvidas no processo para que a aprendizagem ocorra, nós já sabemos!.. E que além da “integridade
básica” dessas funções, se faz necessário oferecer
oportunidades que propicie essa aprendizagem, nós, também já ouvimos falar ou
lemos em algum lugar! O que urge entendermos é que as contribuições da
neurociência por si só não são garantias de sucesso na aprendizagem de nossos
educandos. Pois, toda e qualquer teoria só se efetiva na prática. Precisamos
compreender que por trás do cérebro que aprende existe alguém que tem um ritmo
próprio e um estilo diferente de aprender e, que como tal, precisa ser
respeitado em sua individualidade.
O que significa que a
aprendizagem não resulta de um simples armazenamento de dados, mas sim da
capacidade de processar e elaborar as informações através da conexão que nossos
receptores sensoriais estabelecem com o ambiente. O que faz com que cada
indivíduo tenha um estilo próprio de aprendizagem. Ao afirmar que alguns alunos
“não aprendem”, alguns educadores parecem não refletir sobre o fato de que
podem não estar utilizando estratégias de ensino que beneficiem os diferentes
estilos de aprendizagem. Por exemplo: há os alunos que para aprender fazem uso
dos receptores “visuais” e que se beneficiam através da exposição a imagens e
palavras escritas, Enquanto que a informação oral beneficiará àqueles que fazem
uso dos receptores “auditivos”, assim como os movimentos, beneficiarão aos “cinestésicos”
(CARVALHO & NOVO, 2005). O não considerar esses pressupostos é mais uma
forma de “fadar” o aluno a um problema de aprendizagem e consequentemente ao
fracasso escolar.
Na base das discussões que embasam o “Não Aprender”
está a “culpabilização”, que ora tem como foco o aluno, ora o professor. A
culpa exime da responsabilidade compartilhada que deve haver no processo
ensino-aprendizagem. O professor ensina, mas, quem aprende é o aluno (GÓMEZ & TÉRAN, 2009). Cabe ressaltar aqui, o
fator “desejo”, termo recorrente nas teorias que embasam os estudos
psicopedgógicos e que como qualquer outro, precisa ser levado em consideração. O
que remete-nos, a famosa citação de Freinet, “está fadado ao fracasso, todo
método que tentar fazer beber água o cavalo que não tem sede”. Não raramente usada
para pôr a culpa no aluno, mas, que hoje, dá margem a outras reflexões
envolvendo também o educador: “Essa máxima nos remete à profunda reflexão sobre
a importância do papel do sujeito que aprende. Mais ainda. Remete-nos à
reflexão sobre o papel do professor como “provocador da sede” (SANTOS 2008).
Diante do exposto, podemos considerar que o papel do professor é oferecer ao
aluno, as ferramentas necessárias para desenvolver suas potencialidades de
acordo com o seu estilo ou modalidade de aprendizagem. E a base dessa máxima,
está não só no conhecimento, mas, no seu pleno exercício.
Em meio a tantas evidências, embasadas
pelos estudos neurocientíficos e picopedagógicos, hoje, sabe-se que enquanto a
atuação nos distúrbios e transtornos de aprendizagem requer uma equipe
multidisciplinar em pelo menos três áreas que inclua especialistas em saúde e educação.
As dificuldades escolares requerem qualificação dos profissionais da educação,
parceria da família com os educadores - por serem estes profissionais, os primeiros
a notar dificuldades no aprendizado da criança - reforço escolar, estratégias para organizar e
desenvolver habilidades de estudo adequadas e/ou atendimento psicopedagógico
e, ainda, escolas com estrutura física e planejamentos adequados.
Nesse sentido, os estudos neurocientíficos disponibilizam alguns
princípios interrelacionando-os com as estratégias que podem ser criadas no
ambiente de sala de aula.
1. Aprendizagem, memória e emoções ficam interligadas quando
ativadas pelo processo de aprendizagem. A aprendizagem sendo atividade social,
os alunos precisam de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranqüilo
encoraja o estudante a expor seus sentimentos e idéias.
2. O cérebro se modifica aos poucos
fisiológica e estruturalmente como resultado da experiência. Aulas
práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes fazem
associações entre experiências prévias com o entendimento atual.
3. O cérebro mostra períodos ótimos (períodos
sensíveis) para certos tipos de aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade
adulta. Ajuste de expectativas e padrões de desempenho às características
etárias específicas dos alunos uso de unidades temáticas integradoras.
4. O cérebro mostra plasticidade neuronal
(sinaptogênese), mas maior densidade sináptica não prevê maior capacidade
generalizada de aprender. Os estudantes precisam sentir-se “detentores” das
atividades e temas que são relevantes para suas vidas. Atividades
pré-selecionadas com possibilidade de escolha das tarefas aumentam a responsabilidade
do aluno no seu aprendizado.
5. Inúmeras áreas do
córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência
de aprendizagem. Situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a
informação nova se “ancore” na compreensão anterior.
6. O cérebro foi evolutivamente concebido para
perceber e gerar padrões quando testa hipóteses. Promover situações em que se
aceite tentativas e aproximações ao gerar hipóteses e apresentação de
evidências. Uso de resolução de “casos” e simulações.
7. O cérebro responde, devido à herança primitiva,
às gravuras, imagens e símbolos. Propiciar ocasiões para alunos expressarem
conhecimento através das artes visuais, música e dramatizações.
(Modificado de Rushton & Larkin,
2001; Rushton et al., 2003 apud BARTOSZECK).
Com base na reflexão e observação desses
princípios, podemos afirmar que o educador ampliará sua prática
educativa através de estratégias que permitirão às crianças que apresentam
dificuldades de aprendizagem, sentirem-se não só “inclusas”, mas, sobretudo “aceitas”.
Considerações Finais
Procuramos através da elaboração deste texto, subsidiar
uma reflexão sobre a necessidade de os educadores em geral entenderem a
normalidade no processo ensino-aprendizagem para que possam atuar nos problemas
a ele relacionados. Embora tenhamos recorrido ao campo da neurociência para
melhor compreender como se manifestam os problemas da aprendizagem no cotidiano
escolar do aluno, a pretensão não é discorrer sobre as funções neurobiológicas,
mas, tão somente contextualizá-las no âmbito educacional. “Numa perspectiva de
interface entre saúde e educação, na qual o assunto
seja o aprendizado normal e seus principais problemas” (TRAVASSO, 2005). Onde
juntas, essas duas áreas possam atuar, de modo a estabelecer o
diagnóstico diferencial entre DIFICULDADES, DISTÚRBIOS e TRANSTORNOS da
aprendizagem.
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30 Mar. 2011
Educadora - Licenc. em Letras Português,
Especialista em Psicopedagogia e Especializanda
em Atendimento Educacional Especializado
– AEE/UFC.