quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Retorno do Programa TDAH na Escola




Atendimento Neurológico
Dr: Francisco Alencar

Mascote do Programa
 Mariana, vida concebida enquanto esperávamos o retorno das atividades do Programa TDAH na Escola

O TDAH e as relações conjugais

Seu marido não percebe quando você corta o cabelo?
É indiferente e nunca se lembra do aniversário de casamento?
Vive enrolado e cheio de problemas?

Talvez ele sofra de TDAH!

O TDAH ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade tem início na infância e evolui com sintomas ao longo da vida em mais de 70% dos casos¹. Acomete 4% dos adultos e cursa com prejuízos em vários setores, inclusive na esfera conjugal. Pessoas com TDAH quando comparadas a quem não tem o transtorno têm mais dificuldade no controle da atenção, hiperatividade e impulsividade. Nelas, as atividades cerebrais responsáveis pelo comportamento, organização e autocontrole estão comprometidas interferindo nas ações do cotidiano. Entre os problemas de origem neurobiológica provavelmente o TDAH é o que mais contribui para as dificuldades entre marido e mulher.

A incapacidade básica de prestar atenção, típica do TDAH, costuma gerar uma gama de comportamentos “mal vistos” dentro de um relacionamento como parecer não ouvir o outro, não perceber os sentimentos do outro, não lembrar datas ou acontecimentos importantes do casal, não dividir as tarefas da casa e não se lembrar de encontros previamente agendados com o parceiro. Sujeitos com TDAH são 30% mais imaturos e sensíveis e na maioria das vezes agem de modo infantil e pirracento dando ao parceiro a sensação de estar lidando com um filho e não com um marido, de quem se espera um compartilhamento dos ônus e bônus da relação².

Alguns têm o pavio curto e são explosivos, impacientes, irritadiços e inconstantes. Quando estão de mau humor podem não controlar a raiva e agir desproporcionalmente à situação. A presença de tais características na mesma pessoa costuma dar a impressão de falta de amor e consideração pelo parceiro com TDAH. A cabeça sempre cheia de pensamentos desorganizados dificulta o engajamento e o estabelecimento de intimidade, ao dificultar que eles destinem tempo suficiente à relação, mantendo-a no foco principal pelo tempo necessário. Em consequência, é comum serem percebidos como pessoas frias, insensíveis, egoístas e hedonistas, características nada desejáveis em um relacionamento saudável.

A impulsividade piora ainda mais a relação, as decisões tomadas sem consultar o/a parceiro/a, de "cabeça quente" e sem pensar. Muitas vezes se esquecem de comunicar algo importante, por achar que já o fizeram. Pelo jeito “avoado” de ser, esgotam seus parceiros. Por se tratar de uma disfunção executiva, o TDAH promove um estado deficitário nas ações voluntárias de modo geral, especialmente na memória, planejamento, organização, gerenciamento do tempo e emoções.

Seus atos estão na dependência da motivação e sensação de prazer e recompensa imediata, por isso costumam ser passionais e inconstantes. No início do relacionamento ou de uma atividade tudo é regado a mimo, atenção e paixão sem fim. Em pouco tempo vem uma sensação de fastio, tédio e intransigência, associados a uma sensação de entorpecimento e indiferença, até que uma nova atração surja, com mais novidade e adrenalina, que o obrigará a por em teste a sua capacidade de sedução e prazer. Daí se origina a compulsão por atividades de risco e a sensação de tédio por atividades difíceis, monótonas, burocráticas, repetitivas e as que demandam mais responsabilidade e resiliência, como casamento e emprego.

Quanto à atividade sexual, as queixas também são frequentes. Talvez a mais comum seja a de falta de intimidade sexual genuína. Para isso é preciso que o parceiro se desligue de tudo e foque no momento, tarefa complexa para quem tem TDAH. Pode surgir a sensação de tédio sexual, pois indivíduos com TDAH têm a sensação de perderem o interesse pela rotina, querendo sempre mudar para atividades ou pessoas mais estimulantes. Esse sentimento de enfado sexual é uma das razões para as altas taxas de divórcio observadas entre os casais onde um deles tem o TDAH.

O trabalho também se mostra um grande inimigo. As situações podem ser extremas, desde aquelas que não conseguem se firmar no emprego e que estão sempre trocando de serviço (alta rotatividade profissional) às que permanecem no emprego, mas de modo deficitário, sempre chegando atrasado, levando advertência do chefe e com os compromissos sempre fora do prazo. Em geral, pessoas com TDAH têm menos anos de escolaridade, trabalham menos horas e têm um salário menor, não persistem em cargos de dia todo e nem suportam serviços burocráticos. Ao contrário, outros são “workaholic”, hiperfocados no trabalho, ficando horas e dias debruçados em relatórios que têm a fazer, ficando geralmente acordados até a madrugada, relegando o relacionamento à segundo plano.

O cônjuge sem TDAH com frequência relata solidão e não desfruta a vivência de compromisso e cumplicidade, essenciais para um relacionamento saudável. Com os anos, a relação costuma ficar fria e desgastada. Ressentimento, mágoa e maus tratos são constantes³. Vários rótulos permeiam a relação, como os de preguiçosos, burros, volúveis, egoístas, relaxados, irresponsáveis, entre outros. Os maridos se queixam que as esposas vivem “sonhando”, sempre “no mundo da lua", sem trabalhar e sem desenvolver o seu potencial. Elas, com frequência, se sentem depressivas e frustradas com o casamento, e com a sensação permanente de estarem presas a uma armadilha (Hallowell e Ratey, 1994).

Lamentavelmente, problemas de saúde mental são pouco divulgados em nossa sociedade, e portadores e familiares pagam um alto preço devido a este desconhecimento. É o caso do TDAH, onde pessoas acometidas agem assim por conta de um comprometimento neurobiológico. O fator que mais contribui para desentendimentos entre o casal é, sem dúvida, a falta de informação. Sem ela, o TDAH jamais será incluído entre as hipóteses diagnósticas em casos de sofrimento conjugal. Ao ignorar que o modo de agir do parceiro/a está ligado ao fato de ele ter um problema neurobiológico, faz toda a diferença. O processo de conhecimento do TDAH satisfaz a ambos os cônjuges acarretando um fortalecimento dos vínculos afetivos da relação.

Referências:

¹ CHADD, 2000

² Guilherme PR et al., 2007; Johnston e Mash, 2001

³ Erel e Burman 1995

Escrito por Dra. Eveyn Vinocur


- See more at: http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/982-o-tdah-e-as-relacoes-conjugais.html#sthash.QHbaiaIE.dpuf

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O impacto do sono no TDAH

Quando nos referimos ao portador de TDAH sempre nos vem à mente à criança ou adolescente inquieto, que não consegue ficar parado um minuto sequer, que se mete onde não é chamado e que incomoda a todos ao seu redor. Ou ainda, o desatento a quem se precisa está sempre chamando atenção para aquilo que esqueceu, deixou de fazer ou pelos objetos que não sabe onde colocou.
Não é comum pensarmos no adulto, não diagnosticado que se sentiu o tempo todo como um peixe fora d'água. Um estranho no ninho que sofreu todo tipo de rótulo em casa, na escola  sem entender o porquê. Que cresceu inseguro, que sofre pelas escolhas erradas, que não tem capacidade de aprender com os erros. Que não consegue estabelecer um objetivo e ter perseverança para atingi-lo. Além de tantos outros problemas associados. Veja o que dizem os pesquisadores sobre os problemas relacionados ao sono.


                                       

Pesquisadores constataram que os adolescentes precisam de mais horas de sono do que qualquer outro grupo de pessoas. Eles precisam de, em média de 9 horas e meia de sono por noite. A tendência natural dos adolescentes é dormir e acordar cada vez mais tarde. Aqueles que não dormem a quantidade de horas necessárias apresentam com mais frequência, comportamento irritadiço e maior dificuldade em manter a concentração em sala de aula.  
As pesquisas apontam que 56% dos jovens com TDAH têm distúrbios do sono. Eles apresentam dificuldades tanto para dormir quanto para acordar. Mesmo quando deitam cedo, não conseguem dormir logo. Alem disso, jovens com TDAH frequentemente não dormem bem: 55% acordam com a sensação de ‘estar cansado’, mesmo após dormir 8 horas ou mais.
De fato, uma das maiores queixas dos pais de crianças/jovens com TDAH é a dificuldade em acordá-los de manhã. O desafio diário para conseguir fazer o jovem levantar-se cedo, não raramente produz alto nível de estresse familiar. Na verdade este é um momento crítico, pois a pressão colocada sobre a criança/jovem para que se levante, quase sempre vem acompanhada de brigas, críticas, confusão, pressa, e toda sorte de fatores e condutas que aumentam a sobrecarga de frustração emocional, sensação de impotência e desânimo. Decididamente, esta não é uma boa maneira de começar o dia. A criança/jovem com TDAH e distúrbio do sono, que já tem que lidar habitualmente com suas dificuldades, que não tem um sono reparador e ainda passa por esta pressão ao acordar, já chega à escola altamente frustrado, irritado e ainda mais cansado. É fácil então concluir, que tal processo se reflete no desempenho em sala de aula.
Apesar de esta situação ser frustrante também para os pais, é preciso entender a ‘forma de funcionar’ dos filhos e buscar soluções, que estão para além de simplesmente pressioná-los diariamente a levantar-se a todo custo e encarar a escola logo cedo.
O aumento das demandas que vem ocorrendo desde o ensino fundamental ao universitário contribui de forma expressiva para que os sintomas do TDAH estejam cada vez mais visíveis, principalmente durante a adolescência. Os jovens têm mais aulas, mais matérias, mais professores, mais trabalhos para entregar, mais tarefas de casa, e tudo isso exige alta habilidade nas funções executivas, capacidade de organização e atividades independentes. Como a criança/jovem com TDAH tem disfunção executiva, ele se sente sobrecarregado, e, quase sempre, deixa suas tarefas inacabadas.
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, algumas escolas adotaram o sistema de horário alternativo, iniciando as atividades escolares um pouco mais tarde, para atender as necessidades específicas destes alunos. Os estudos comparativos mostram que, jovens que adotaram horários de aula alternativos (a partir das 9 ou 10 da manhã), tiveram melhoras significativas no desempenho acadêmico e social. Mas, algumas outras mudanças na rotina da família também podem ajudar.
De acordo com diversos achados científicos, as informações mais importantes são processadas e consolidadas no nosso cérebro durante o sono. A falta de sono afeta a memória e a habilidade de se concentrar. Imagine então, o efeito dos problemas de sono numa pessoa com TDAH! É muito importante os pais entenderem a conexão entre o déficit de atenção e problemas com sono, em seus filhos, envolvendo profissionais médicos e educadores na busca de minimizar os prejuízos acadêmicos e pessoais.
É importante também observar a existência de comorbidades nas crianças/jovens com TDAH. Depressão e ansiedade, por exemplo, são comorbidades frequentes nas pessoas com TDAH, e afetam diretamente a qualidade do sono.

- See more at: http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/980-o-impacto-do-sono-no-tdah.html#sthash.GNLpHM8M.dpuf