Que pai não sonha com a felicidade e o sucesso
dos filhos? É para ajudá-los a chegar lá que sempre tentamos proporcionar as
melhores experiências, a melhor escola, e, até, os melhores amigos para eles.
Mas, para usufruir tudo isso, as crianças precisam aprender a lidar com os
sentimentos. Só assim conseguirão superar as frustrações que vão enfrentar
durante toda a vida.
Ao longo deste artigo, você vai encontrar as
definições de dez habilidades emocionais fundamentais para o seu filho se
desenvolver em todos os aspectos – e vai descobrir como ajudá-lo a fazer isso
no dia a dia.
Basta o filho nascer, ou melhor, basta
descobrirmos que vamos ser pais, para querermos ter certeza de que ele vai
crescer feliz e conquistar tudo o que desejar (e um pouquinho mais, por que
não?). E, para tentar garantir essa realidade, começa com que parece ser um
plano infalível: oferecer bons professores e cursos de idiomas, fazer poupança
para faculdade, proporcionar viagens de intercâmbio, matricular em uma
atividade física...
Claro, tudo isso é de extrema importância,
principalmente para que ele se desenvolva intelectualmente, adquira cultura e
descubra seus talentos e preferências, mas existe outro componente fundamental,
sem o qual nada disso funciona direito: a capacidade de aceitar, entender,
lidar com as emoções.
Isso significa que, para enfrentar os desafios
e alcançar seus objetivos, além de boas notas no boletim, seu filho vai
precisar de uma boa dose de jogo de cintura para aprender a esperar, a
trabalhar em grupo, a expressar suas opiniões e a não desistir de suas
empreitadas. O primeiro dia na educação infantil, o fora da namorada na
adolescência, a disputa por uma vaga na faculdade, a busca do primeiro emprego.
Todos obstáculos que serão superados com mais
tranquilidade se ele souber administrar o que sente e pensa não só com a
cabeça, mas também com o coração.
É aí que as dez habilidades emocionais vão ajudar, e muito. São elas: a autoconfiança, a paciência, a coragem, a tolerância, a persistência, o controle dos impulsos, o autoconhecimento, a empatia, a comunicação e a resistência às frustrações.
É aí que as dez habilidades emocionais vão ajudar, e muito. São elas: a autoconfiança, a paciência, a coragem, a tolerância, a persistência, o controle dos impulsos, o autoconhecimento, a empatia, a comunicação e a resistência às frustrações.
E não caberá à escola, apenas, passar esse
importante aprendizado: ele está intimamente ligado aos ensinamentos que você
passa ao seu filho desde o primeiro dia de vida, sem nem mesmo perceber. É como
você encara cada choro, como explica e mantém cada decisão sua – de que ele não
pode sempre comer só o que quiser ou fazer apenas o que tem vontade - e como administra
a sensação para lá de incômoda de vê-lo triste ou magoado. Experiências
desegradáveis também são fundamentais para que ele esteja preparado para tudo o
que ainda vai ocorrer na vida.
E que ele precisará lidar estando você por
perto ou não. Por isso mesmo é muito melhor que ele aprenda isso com o seu
carinho.
Você já deve ter ouvido falar ou até já
conheceu crianças com um raciocínio lógico muito rápido e apurado que não
conseguem fazer amigos e entram em pânico diante de uma impossibilidade. Quando
começam a vida escolar e precisam conviver com outras crianças e se adaptar a
regras, elas se tornam agressivas ou acabam se isolando. É a prova de que
desenvolvimento intelectual não é igual a desenvolvimento emocional.
Se você acha que seu filho é inteligente o
suficiente para “pular” uma série, avalie antes, junto com os professores, se
ele tem maturidade psicológica para isso. Afinal, não basta ser craque em
matemática ou história. As crianças precisam aprender a usar as emoções a seu
favor desde cedo. É o que os especialistas chamam de inteligência emocional.
O termo ficou conhecido em 1995, quando o
psicólogo e jornalista norte-americano Daniel Goleman lançou o livro
Inteligência Emocional – Por que Ela Pode Ser mais importante que o QI (Ed.
Objetiva). Ele reuniu pesquisas, dados científicos, exemplos do cotidiano e
informações de especialistas para falar sobre a importância de reconhecer e
administrar as emoções, as nossas e as dos outros, e usá-las de maneira
eficiente para tomar decisões, construir relações, alcançar objetivos e,
principalmente, lidar com os altos e baixos da vida.
“A inteligência emocional nada mais é do que
a capacidade de se adaptar ao mundo. O ser humano não se desenvolve, inclusive
mentalmente, sem o contato com o outro e com o meio que o cerca. Por isso
precisa aprender a estabelecer essas relações de uma maneira boa para ele e
para os outros”, explica a psicóloga Ceres de Araújo, uma das mais importantes
especialistas em crianças e adolescentes do Brasil e autora do livro Pais que
Educam – Uma Aventura Inesquecível (Ed. Gente).
O equilíbrio emocional também é importante
para o desenvolvimento das habilidades intelectuais: um não acontece sem o
outro. Foi o que mostrou um estudo da ONG Colaboração para a Aprendizagem
Acadêmica, Social e Emocional (Casel, na sigla em inglês), fundada por Goleman
em 94. Os pesquisadores analisaram dados de 270.024 crianças do ensino infantil
ao médio de 213 escolas norte-americanas que incluíram em seu currículo
programas de ensino emocional e social (SEL, na sigla em inglês).
Nas aulas, as crianças aprendem na prática a
verbalizar seus sentimentos e relacioná-los às situações. Por exemplo, contar o
que fazem quando ficam com raiva (gritar, chorar, brigar). Além de melhorar
suas habilidades de relacionamento e para lidar com emoções, as crianças
tiveram um ganho de 11% em seu rendimento escolar. A escola é um espaço
importante para o desenvolvimento emocional e social, mas os principais modelos
ainda são, como sempre, os pais.
Aprendizado diário
Seu filho tem 3 anos e está brincando no
quarto quando você entra e diz: “Hora de tomar banho!”. Não será nenhuma
surpresa se a primeira reação dele for se recusar a deixar a diversão de lado.
Se você insistir, é bem possível que ele tenha um ataque de choro. Isso
acontece porque a criança não está conseguindo lidar com a frustração, embora
pequena, de ter que parar o lazer para cumprir um dever. “O que define o
desenvolvimento emocional é segurança, física e afetiva. E o que promove essa
segurança é a clareza do que eu posso e do que eu não posso. Em outras
palavras, estabelecer limites”, diz Edimara.
Manter-se firme e dar disciplina é o que vai
garantir que essa situação de conflito ensine seu filho não só a esperar e a
tolerar as impossibilidades, mas também a identificar, entender e administrar
suas emoções diante de cada situação. Pegue seu filho pela mão, com carinho,
mas firmeza e, enquanto o leva até o banheiro, diga que entende que ele não
quer parar de brincar, mas que não há outra opção. “Os pais precisam autorizar
e entender o sentimento da criança, mas ao mesmo tempo mostrar que aquilo é necessário
naquele momento, que ele não precisa gostar do limite, mas tem de aceitá-lo e
aprender a controlar o seu comportamento”, explica Iuri Capelatto,
psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos e professor de
Desenvolvimento Emocional no curso de pós-graduação de Neuropsicologia Aplicada
à Neurologia Infantil da Unicamp.
Para ajudar as crianças com as suas emoções os
pais precisam aprender eles mesmos a lidar com situações que nunca haviam
vivido antes da chegada dos filhos. Afinal, em momentos como esses, as
habilidades emocionais dos próprios pais são colocadas à prova.
Como não enlouquecer diante de uma birra? De
acordo com o psicólogo norte-americano Marc Breckett, pesquisador do
Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, há muitos fatores que podem
influenciar a inteligência emocional de uma pessoa, como o contexto cultural, o
histórico familiar e a educação, mas o mais forte ainda é o exemplo. “Nossas
mais novas pesquisas mostram que a exposição a modelos de comportamento que
demonstram habilidades emocionais ajuda as crianças a desenvolverem essas
mesmas habilidades”.
Manter a calma diante de uma birra daquelas
não é tarefa fácil, mas ao gritar de volta você só vai demonstrar que também
está com as emoções à flor da pele. Sim, às vezes você perde a cabeça, mas
tente contar até dez, respirar fundo e pedir desculpas. Assim você já vai
estar, inclusive, ensinando seu filho a lidar com o nervosismo e a raiva quando
ele se sentir assim.
1 - Autoconfiança
Ressaltar as qualidades do seu filho e mostrar
que você acredita na capacidade dele é a chave para que ele faça o mesmo. Na
hora de repreendê-lo, por exemplo, foque no comportamento ruim em vez de
rotulá-lo. “É preciso censurar o fato e não quem o praticou. Se eu digo a uma
criança que ela é teimosa, ela vai acreditar nisso e ser mais teimosa”, explica
Edimara de Lima, psicopedagoga e diretora da Prima Escola Montessori, em São
Paulo.
Reforce o que for positivo, mas não elogie
sempre, só por elogiar, para não criar uma postura arrogante nem uma pessoa que
não saberá lidar com críticas. No dia a dia, mostre que ele pode contar com seu
apoio para realizar tarefas simples, como escovar os dentes, mas, ao mesmo tempo, dê autonomia para que ele aprenda a fazer sozinho e encontre a sua própria maneira.
apoio para realizar tarefas simples, como escovar os dentes, mas, ao mesmo tempo, dê autonomia para que ele aprenda a fazer sozinho e encontre a sua própria maneira.
2 - Coragem
Ter medo de algo que não conhecemos ou não
conseguimos entender é natural, e até esperado. Toda criança já teve medo do
escuro ou do bicho papão. Para ajudar seu filho a encarar esses e muitos outros
receios que vão surgir (do vestibular, de aprender a dirigir e até de conhecer
a sogra), dê espaço para que ele expresse e entenda o que está sentindo. Uma
boa dica é usar livros e filmes que falem sobre esses medos.
O primeiro dia na escola pode parecer
assustador, mas depois que ele enfrentar as primeiras horas e se acostumar com
a classe vai perceber que está tudo bem, e que ele nem precisava ter ficado com
tanto medo. “A coragem é essencial para que possamos aceitar desafios, ir atrás
dos nossos objetivos, aprender coisas novas e defender os nosso valores”,
afirma Steven Brion-Meiseis, educador que há 35 anos trabalha com o tema e é
professor da Escola Superior de Educção de Harvard, da Lesley University (ambas
nos EUA) e da Universidade de Los Andes (Bogotá, Colômbia).
3 - Paciência
“Tá chegando?” Quantas vezes você já ouviu
isso durante uma viagem longa? Aprender que não podemos controlar tudo e que é
preciso saber esperar não é fácil nem para nós, adultos, imagine então para uma
criança que está ansiosa, entediada ou ainda não entende totalmente a passagem
do tempo. Mas as filas de banco e as salas de espera de consultórios médicos
são apenas algumas das situações que vão exigir do seu filho paciência.
Mostre para ele que cada coisa tem o seu
tempo. Um jogo em família ou uma conversa na mesa de jantar são bons exemplos
de situações cotidianas em que cada um precisa esperar a sua vez, seja para
jogar ou para falar e ser ouvido.
4 - Persistência
Quando estiver aprendendo a andar, seu filho
vai se desequilibrar e cair, e por isso mesmo precisa do seu apoio e incentivo
para perceber que um pouco de treino e muita persistência vão garantir seus
primeiros passos. E esse é apenas um dos muitos desafios que ele vai enfrentar,
então não caia na tentação de fazer tudo por ele. “O estímulo positivo é
importante.
Mostre que o fato de ele não ter sucesso
naquele momento, naquela atividade específica, não quer dizer que ele nunca vai
conseguir vencer o desafio”, diz Quézia Bombonatto, terapeuta familiar e
presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Só assim ele vai poder
traçar metas e superar os obstáculos para alcançar seus objetivos sem desistir
no meio do caminho.
5 -Tolerância
Quando vai para a escola, seu filho entra em
contato com dezenas de outras crianças com realidades e comportamentos diversos
e muitas vezes totalmente diferentes de tudo que ele conhece. Aprender a
aceitar essas diferenças é o começo do caminho para uma convivência tranquila e
harmoniosa com o outro. “É importante criar oportunidades de interações mais
cooperativas, como jogos coletivos, para que a criança comece a conhecer tanto
as regras quanto as necessidades dos outros”, afirma o psicólogo Ricardo Franco
de Lima, especializado em Neurologia Infantil.
E os seus modelos também contam muito para o
desenvolvimento da tolerância do seu filho. Ele só vai aprender a compreender o
outro se vir os pais fazendo isso no dia a dia. Quer um exemplo? Sua atitude
com os mais velhos é que vai ajudá-lo a ter paciência com os avós e com o irmão
mais novo.
6 - Autoconhecimento
Quem sou eu? Eu gosto disso ou prefiro aquilo?
Essas indagações só vão passar pela cabeça do seu filho por volta dos 3 anos. É
quando ele vai começar a se questionar, a se perceber e, claro, a expressar
suas vontades, agora com motivos e razões mais consistentes. Aos poucos, ele
vai se conhecer melhor e isso será fundamental para que ele pense e aja com
mais segurança, respeitando o que sente.
Também é primeiro passo para se relacionar com
as pessoas à sua volta. “A criança aprende primeiro a se relacionar com ela
mesma, a entender o que sente, para depois transferir esse conhecimento para a
relação com o outro”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto. Incentive seu
filho a perceber quais são suas preferências, pergunte, peça
para ele explicar, conte as suas próprias histórias. Sempre ofereça opções e pergunte de qual ele gosta mais e o porquê.
para ele explicar, conte as suas próprias histórias. Sempre ofereça opções e pergunte de qual ele gosta mais e o porquê.
7 - Controle dos impulsos
Uma sala vazia, uma criança de quatro anos e
um marshmallow. A proposta é simples: ela pode comer o doce ou esperar e ganhar
mais um, ficando com dois. Esse teste foi criado por um pesquisador da
Universidade de Standford (EUA) há mais de 50 anos para analisar quais crianças
eram capazes de controlar suas emoções para conseguir conter seus impulsos.
O estudo voltou a analisar as mesmas crianças
anos depois, no ensino médio, e aquelas que resistiram à tentação de comer o
primeiro marshmallow por cerca de 20 minutos tinham um desempenho escolar maior
do que as que comeram. Isso porque elas sabiam adiar a satisfação para ter o
que queremos, por isso é tão importante controlar o desejo e as reações frente
aos impulsos”, diz o psicoterapeuta Iuri Capelatto.Em casa, terá dias que ela
vai querer comer correndo para ganhar logo a sobremesa. Mas ensine que ele
deve, primeiro, esperar todos acabarem o jantar.
8 - Resistência às frustrações
“Dizer não é a maior prova de amor que um pai
pode dar”, afirma a psicóloga Ceres de Araújo. É assim, com pequenas doses de
frustração, que seu filho vai aprender a lidar com as adversidades e a superar
os problemas sem se deixar abater. Isso é o que os especialistas chamam de
resiliência, ou seja, a capacidade de sobreviver às dificuldades e usá-las como
fonte de crescimento e aprendizado.
Se ele não souber lidar com pequenos “nãos”,
como “aí não pode”, “é hora de ir embora”, “esse brinquedo é caro demais”, terá
mais dificuldade de aceitar e superar o não do chefe ou da namorada, por
exemplo. E tentar poupá-lo só vai atrapalhar. “Os pais precisam parar de
confundir felicidade com satisfação de desejos. As crianças precisam ter
contato com pequenas impossibilidades para poder lidar com as maiores depois”,
completa a psicopedagoga Edimara. Portanto, não se culpe por ter de dizer não a
ele de vez em quando. Isso só fará bem para todos vocês!
9 - Empatia
Até por volta dos 2 anos, a criança só
consegue ver as coisas a partir da sua perspectiva. A partir dessa idade ela já
consegue se colocar no lugar do outro e pode começar a exercitar plenamente a
empatia. “Para que seu filho entenda o que oura pessoa está sentindo, ele precisa
de ajuda para reconhecer, nomear e expressar suas próprias emoções, bem como as
consequências das suas ações”, diz o psicólogo Ricardo de Franco Lima.
Diante de um conflito, pergunte por que ele
agiu assim, o que pensou e sentiu e incentive-o a imaginar o que o outro está
sentindo também, levantando possibilidades, mas deixando que ele mesmo crie
maneiras de resolver a briga.
10 - Comunicação
Conversar sobre o que seu filho fez durante o
dia é um estímulo para que ele aprenda a organizar as ideias e transformá-las
em frases de uma forma que os outros possam compreender. Provavelmente a
primeira resposta será “legal”, mas não desista! Fazer outras perguntas ou até
falar sobre o seu dia também pode ajudar. Afinal, de nada vai adiantar ele ter
boas ideias se não conseguir contá-las aos outros. “Outras atividades que
favorecem a interação verbal também são importantes, como contar e recontar
histórias, interpretar essas mesmas histórias e ler um livro junto com os
filhos”, diz o psicólogo Ricardo Franco de Lima.
Mas mesmo antes de aprender a falar, o bebê já
se comunica por meio de gestos e precisa ser estimulado a verbalizar. Se ele
apontar para um objetivo, por exemplo, em vez de entregá-lo prontamente,
pergunte o que ele quer, fale o nome do objeto e dê um tempo para ele tentar
articular alguns sons. Depois que ele aprender a ler e escrever, procure
ensiná-lo também que, além da linguagem do bate-papo com os amigos, será
importante para a vida que ele saiba o português formal, por mais complicado
que isso possa parecer.
Fonte: Ivete Gianfaldoni Gattás, psiquiatra e
coordenadora da unidade de psiquiatria da infância e adolescência da UNIFESP;
Joseph Durlak, psicólogo e professor da Universidade Loyola, em Chicago (EUA);
Márcia Silva Rosa, professora do ensino fundamental e médio da Escola Municipal
Heráclito Fontoura Sobral Pinto, em Curitiba (PR) e Theodora Maria Mendes de
Almeida, diretora pedagógica da escola de educação infantil Bola de Neve e do
colégio Hugo Sarmento, ambos em São Paulo.
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