Fga:
Profª Telma Pântano
A identificação precoce de
um possível ou suposto quadro de dislexia no ambiente escolar, sensibiliza os
profissionais da educação ao exercício de um novo olhar: “olhar” mais
cuidadoso, criterioso, investigativo e com mais participação na vida escolar
dessa criança.
O diagnóstico que
envolve a exclusão de outras condições e dificuldade por parte da criança, deve
voltar-se para uma serie de sinais e sintomas muito peculiares, que podem
sugerir a suspeita e levar a busca de profissionais especializados para tal
diagnóstico.
Neste contexto, é
difícil estabelecer critérios precoces para esta identificação, pois acompanhar
o desempenho evolutivo de uma criança é um dos marcadores para inferir
inadequações neste desenvolvimento. Sabemos que podem surgir atrasos no
desenvolvimento motor e linguístico, inadequações nas fases desse
desenvolvimento e superação delas em ambiente familiar estimulador ou não, além
de outros fatores que possam implicar direta ou indiretamente no desempenho
formal do aprendizado de leitura e escrita.
Estabelecer estratégias
e metas novas e eficazes para que crianças desenvolvam o mais correto possível
suas habilidades sensoriais e motoras para atingir o contexto formal escolar,
sem grandes atribulações é fundamental já que, qualquer aprendizado pedagógico passa pela aprendizagem informal,
aprendizado esse que depende do ambiente, da família, da sociedade e das
particularidades individuais de cada ser.
Aprender é algo único,
e neste aspecto devemos valorizar as pequenas e altas habilidades, pois deste
modo, precocemente perceberemos aqueles com mais habilidades para raciocínio,
cálculo, e aqueles com habilidades mais linguísticas e assim, facilitamos sua
integração no contexto pedagógico formal
Habilidade para Desenvolver a Escrita e Leitura
Os processos
cognitivos que resultam em aquisição do processo de leitura e escrita formam
uma base, como apresentaremos:
(1) Conhecimento de (leitura) e (nome) dessas
letras:
É importante que esse
conhecimento não venha de uma sequência automática de memória do
abecedário e sim de conhecimento e reconhecimento de grafemas e o nome
que esses grafemas possuem.
2) Consciência Fonológica:
Envolve a habilidade
em que a criança aprende a ouvir com o Ouvido Neurológico, associando
sons e letras e com essas transposições entre os sinais auditivos
corresponder-se a símbolos gráficos, oriundos das unidades articulatórios da
fala.
(3) Aptidões da Fala e Linguagem:
Direciona a criança
para dentro de um processo de aprendizagem formal, e através dele podemos
entender que, quando uma criança está na escola, ela já adquiriu a fala
(oralidade), já possui uma estrutura linguistica oral, e a partir deste
processo adquirido irá construir um novo processo: a escrita, e
em conseqüência, a leitura.
Quando esta criança
não tem uma boa estrutura de linguagem oral que comporte uma estrutura textual,
dificilmente conseguirá fazê-lo dentro de uma estrutura na escrita. Quando
apresenta uma oralidade contaminada por substituições e omissões, essas trocas
aparecerão no processo de aquisição da escrita, é necessário verificar suas
estruturas anteriores (pré-requisitos) para que a possibilidade de transpor
para leitura e escrita esteja adequada.
(4) Atenção Sustentada:
Nascemos com uma
atenção automática que é uma resposta aos estímulos e estes provocam essa
atenção para uma resposta a estímulos fortes, com grande intensidade, e estes
fazem seus registros de automatismo. É essa atenção que persiste na
criança durante o aprendizado informal.
Para integrarmos ao
aprendizado formal (pedagógico) precisamos da extensão desta atenção
voluntária, escolher o que queremos focar, saber relacionar com a situação e
contexto escolar. Mais do que isso, se faz necessário uma sustentação para este
foco, que é uma habilidade que depende da maturação do lobo frontal, de uma
maturação neurológica, que depende de muito treino, adaptação, adequação, e
intensa participação da criança.
Esta atenção
sustentada é que mantém as zonas de associação com a atenção auditiva para o
aprendizado, possibilitando a retenção, ou seja, a consolidação do
conhecimento. Deste modo podemos compreender a necessidade e importância do
treino dessa habilidade (talvez a que mais necessite de treino) na primeira
infância (no ensino infantil pré-requisitos ligados a fase sensório-motor).
(5) Memória Operacional
Esta memória é que nos
conduz a memória de trabalho, ou seja, é necessário muito treino com a memória
operacional no período da aprendizagem informal para que através das
habilidades exercitadas da criança, ela possa seguir para aprendizagem
estrutural e assimilar o significado e significante dos símbolos
sonoros. Essa correspondência se transformará em imagens mentais abstratas e
concretas, em nomeação, relações de fatos com sons para que efetive as relações
de oralidade e imagens (codificar e decodificar), estabelecendo significado ao
que se aprende.
Neste processo
complexo, a maturação neurológica, as zonas de aprendizado e as relações nas
áreas frontotemporais são essenciais: a memória auditiva de curto prazo
relacionando-se com muitas associações para que a memória de longo prazo
efetive o conhecimento e dê seguimento ás próximas etapas linguisticas.
Aprendizado: marcadores do ensino informal para o ensino formal
(pedagógico)
A criança, na sua
maturação neurológica e no processo evolutivo, de posse do conhecimento
informal e o jogo de brincar - APRENDENDO, deverá ter posse, no seu interior as
seguintes habilidades:
1.
Habilidades Individuais
(genética)
2.
Análise – Fonológica
3.
Síntese – fonológica
4.
Codificação –
Decodificação adequada para memória de trabalho e memória operacional.
5.
Nomeação isolada
6.
Nomeação serial
7.
Atenção global
preservada
8.
Funções Corticais
Preservadas (sem lesões aparentes).
9.
Ambiente estimulador e
adequado emocionalmente.
10)Oportunidades para
o Desenvolvimento neuropsicológico normal.
Requisitos para passagem do ensino informal para ensino formal
( Na criança padrão
(normalidade), espera-se que já tenha inserido no seu interior cortical algumas
habilidades para desenvolver novas etapas para maturação, progressão e
superioridade linguistica (metalinguagem), e por fim desenvolver suas
habilidades com os conceitos adquiridos ao longo da infância e adolescência.
Assim, ela terá:
velocidade sináptica, rapidez para hipóteses, realizará muitos insights e
facilidade com nomeação isolada e serial de objetos, cores, formas, números,
letras (funções básicas intrínsecas),
De posse desses
facilitadores, conseguirá manter um processo contínuo, uma linha espacial
(psicomotricidade) que irá da direita para esquerda, e de cima para baixo.
Assim, irá relacionando noções viso-espaciais, dentro de contexto
sensitivo-motor, com desempenho de todas as áreas (as camadas neurológicas) e
com um complexo aumento de sinapses. Do mesmo modo essas sinapses entre os
Hemisférios Direito e Esquerdo, onde os lobos frontoparietoocciptal e temporal
assumem muitas funções, entre elas, a memória do aprendizado formal onde o
exercício repetido com prazer e ritmo é adquirido e não esquecido,
possibilitará continuar as suas relações simbólicas para expansão desse conhecimento.
Do Conhecimento Adquirido:
Como suspeitar de
dificuldades na aquisição de leitura e escrita? Indicadores podem ser
observados e devemos estar atentos quando verificarmos nesse processo de
aprendizagem os itens abaixo:
1.
Dificuldade na
velocidade de nomear objetos, cores, números, formas, letras
2.
Dificuldade na
consciência Fonológica, não consegue criar hipóteses sobre sua oralidade e a
dos outros.
3.
Dificuldade na
extensão da memória sustentada (curto e longo prazo)
4.
Dificuldade na atenção
sustentada
5.
Desorganização
praxi-motora
6.
Inabilidade
linguística (não consegue rimas, soletração, parlendas, etc...)
Sabemos que o
aprendizado informal ocorre pela relação entre os fatores: o biológico,
o cognitivo e o comportamental e o desenvolvimento da criança, baseado
nestes fatores, pode relacionar-se de maneira intrínseca (depende dela) e
extrínseca (do ambiente).
Nos fatores intrínsecos
a genética, o neurobiológico, o processamento de linguagem, o processamento
auditivo, os aspectos psicoemocionais, e até os transtornos de atenção com ou
sem hiperatividade (TDAH) podem levar ao sucesso escolar, e ao contrário,
quando algum ou o somatório de alguns destes itens levam ao desvio do
aprendizado e leva-nos ao fracasso escolar.
Os fatores extrínsecos,
que podem ser de ordem social, ambiental, cultural ou religiosa, também
interferem positiva ou negativamente no aprendizado informal até atingir o
aprendizado formal (alfabetização) e como exemplo podemos citar as famílias
inadequadas, as escolas com poucos estímulos para aprendizagem, a baixa
expectativa dessa família por parte da ascensão do filho na escola e outros.
Das Dificuldades:
É a incapacidade de processar o
conceito de codificar e decodificar a unidade sonora em unidades gráficas,
(forma de grafemas) com capacidade cognitiva preservada (nível de inteligência
normal). Os disléxicos têm capacidade para aprender todas as funções
sociais e até altas habilidades, desde que, bem diagnosticado, seja trabalhado
em suas áreas corticais favoráveis e com estratégias e intervenções adequadas.
Essa intervenções devem valorizar suas funções viso-motoras, imagens com
significado e significante associados a ritmo e memória visual
auxiliando sua memória auditiva, para que desenvolva a capacidade por outras
rotas (sabido que sua rota fonológica é prejudicada).
2) Disortografia
3) Disgrafia:
Não se pode confundi-la ou
compará-la com disortografia, pois a disgrafia tem características
próprias. A criança com disgrafia apresenta uma escrita ilegível decorrente de
dificuldades no ato motor de escrever, alterações na coordenação motora fina,
ritmo, e velocidade do movimento, sugerindo um transtorno praxico motor
(psicomotricidade fina e visual alteradas).
4) Discalculia:
Conclusão:
Todo trabalho escolar,
da vida acadêmica de uma criança deve ser investigado precocemente, desde seus
primeiros momentos em berçários, creches, escolas infantis, pois a detecção de
falhas ou inabilidade no seu D.N.P.M. (desenvolvimento neuropsicomotor) será
precioso para atendê-la melhor, até seu inicio ao ensino formal, respeitando
seu ritmo, mas oferecendo-lhe oportunidade de uma boa intervenção, caso
descubra-se precocemente esta falha ou incapacidade.
O pré-diagnóstico no
âmbito escolar é excelente para o aluno, para a escola, para os pais e a
sociedade, onde não se atropela o desenvolvimento e nem permite más condutas
com gastos desnecessários no futuro.
Todos devem participar
desse novo olhar: professores, direção de escola, pais, psicopedagogos, e
outros profissionais envolvidos direta ou indiretamente na alfabetização.
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