quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O TDAH no Pré-Escolar



RAÍZES HISTÓRICAS

THORLEY, 1844 – Século XIX: “Idiotas Loucas”, ‘Insanidade Impulsiva e “Inibição defectiva”.
STILL, 1902 – “Defeito Mórbido do Controle Mental”.
DUPRÈ, 1920 – Crianças hipercinéticas, impulsivas, agressivas, com dificuldade de atenção e concentração.
BAKWIN, 1949 – “Lesão Cerebral Mínima”.
BRADLEY, 1957 – Lesão Cerebral Mínima devido alteração do SNC.
NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTY DOS ESTADOS UNIDOS, 1960 – Define um conceito para o então transtorno denominado Disfunção Cerebral.
CLEMENTE E PETERS, 1962 – “Disfunção Cerebral Mínima”.
LONEY E COL, 1978 – Descarta a deficiência mental e lesões cerebrais nas chamadas crianças hipercinéticas.
ROSS, 1982 – Define e caracteriza essa Síndrome: hipersinesia, dificuldade de atenção, agressividade, impulsividade, dificuldade de aprendizagem, pequenos desvios do SNC, inteligência normal, dificuldade em adiar gratificações, transtornos emocionais, problemas de coordenação motora e anomalias físicas.
DSM – III, 1983 – Acatou essa opinião e denominou essa síndrome:”Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade”. Com três elementos básicos: desatenção, impulsividade e inquietação.
DSM – III.R. – 1987 -”Transtorno do Déficit de Atenção por Hiperatividade” e o TDA sem hiperatividade foi omitido.
CID 10 – 1993 – Transtornos hipercinéticos.

BREVE HISTÓRICO

Transtorno foi descrito há mais de 150 anos. Nesse histórico os vários termos descritos não podem ser considerados sinônimos pois foram baseados em conceitos diferentes e surgiram em diferentes períodos da psiquiatria infantil portanto, com diferentes variáveis incontroláveis.
As diferentes terminologias refletiram diferentes conceitos sobre etiologia, quadro clínico, diferenças entre sexos e idade de início e o transtorno não descrito na literatura.
As pesquisas sobre sexo e inicio precoce surgiram na década de 80 no século passado.

DEFINIÇÃO DO TDAH

Esse grupo de transtornos no século XXI é descrito: início precoce; uma combinação de um comportamento hiperativo e pobremente modulado com desatenção marcante com falta de envolvimento persistente nas tarefas, conduta impulsiva invasiva nas situações e persistência no tempo dessas características de comportamento.

RECÉM-NASCIDO ATÉ 2 ANOS DE IDADE

Bebês irritáveis, em estado de hiperalerta, dirigem o olhar a qualquer estímulo, dormem pouco, tem sono agitado, cólicas abdominais intensas e frequentes, sugam o leite com muita força, regurgitam o leite com frequencia, características de voracidade, não gostam de colo, hiperatividade.

ENTRE DOIS A SEIS ANOS DE IDADE

Hiperatividade e primeiros sinais de agressividade verbal, brincadeiras destrutivas, impulsividade. Dificuldades de fala (ou demoram para pronunciar as primeiras palavras ou são taquilálicos), incoordenação motora, resistências as medidas disciplinares, não tem noção de perigo, dificuldades no controle de esfíncteres, sono agitado e/ou insônia, mostram-se insatisfeitos e com muita birra e teimosia (querem porque querem, na hora que querem).

COMPLEXIDADE DIAGNÓSTICA

 Primeiros meses de vida:

ü  Hiperatividade;

ü  Cólicas abdominais intensas e choro freqüente;

ü  Sono agitado e entrecortado (acorda nos pés da cama);

ü  Succiona o leito com muita força e regurgitação;

ü  Pés e mãos frias e suadas;

ü  Parecem ter acessos de raiva como atirando objetos. Esses sinais e sintomas são encontrados na angustia o que dificulta o diagnóstico do TDAH no primeiro ano de vida.

ü  Há um continuum de hiperatividade que pode já ser iniciada na vida fetal e reduzida na adolescência.

ü  Adolescentes e adultos apresentam inquietude sem os valores extremos da infância;

ü  A linha divisória entre normal e hiperatividade na primeira infância se torna mais difícil devida agitação e desatenção normal, próprias dessa faixa etária, com travessuras e extroversão da criança, principalmente entre 3 a 6 anos de idade. É nesse período que o diagnóstico se torna mais complexo. 

ü  Mexem-se muito na cadeira, vai e vem...etc.

ü  Remexem objetos;

ü  Trocam de atividade frequentemente. Isto faz pensar que elas se distraem com facilidade, embora seja difícil caracterizar a distração, pois tem atenção secundária mais desenvolvida em relação a primária o que é próprio do desenvolvimento normal.

ü  Nesse período a anormalidade mais óbvia não está na quantidade mais sim no controle da atividade da criança. As crianças com TDAH são de difícil controle e obediência.  Na escola, por exemplo, durante o recreio, dificilmente elas são observadas mais hiperativas que as crianças normais.

ü  Entretanto o que chama atenção é a dificuldade delas interromper a recreação e voltar para sala de aula.

ü  Entende-se nesse momento o ato impulsivo: agem sem pensar, não atendem os chamados, são imprudentes nos seus comportamentos como: saem correndo sem noção de perigo, interrompem os adultos, falam sem pensar, não respeitam filas e/ou não esperam sua vez;

ü  Esses comportamentos também são semelhantes nos portadores de Transtornos de Conduta o que dificulta o diagnóstico. O diferencial entre TDAH e Transtorno de Conduta seria os sentimentos de culpa e empatia presentes somente no TDAH, embora difíceis de serem observados nessa faixa etária;

ü  A hiperatividade deve ser visível em diferentes ambientes;

ü  A hiperatividade pode não ser observada em breves situações. Exemplo: em ambientes pouco familiares como exames médicos, ou quando a criança está motivada em situações como as brincadeiras, situações estressantes como perante o pai alcoolizado;

ü  A hiperatividade invasiva dever ser crônica (duração acima de 6 meses) é precoce e se agrava nos primeiros anos de alfabetização, diminui na adolescência e diminui ainda mais na vida adulta

ü  Quando ocorre somente em um ambiente não é suficiente para o diagnóstico para o TDAH. Não se faz diagnóstico de TDAH quando a agitação é insatisfatória, deve-se então, pensar em transtorno de humor, ansiedade ou esquizofrenia.

A ATENÇÃO

ü  Persistência nas atividades como: brincar ou atividades da escola, concentrando a energia psíquica na tarefa principal, embora perceba outros estímulos do ambiente, atenção primária cristalização por volta dos 7 anos de idade.

ü  Aparentemente parecem atentas, mas a concentração pode estar reduzida, pois pode estar no mundo da lua.

ü  Freqüente no sexo feminino
ü  Não se tem uma medida discriminatória de desatenção o que torna o diagnóstico mais difícil nessa faixa etária.

 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS PARA O DIAGNÓSTICO

ü  Quanto tempo fica sentada durante as tarefas;

ü  Proporção de tempo que ficam irrequietas e birrentas;

ü  Com que freqüência elas fogem dos pais, atividades da escola ou companheiros;

ü  São excessivamente desinibidas e esquecidas;

ü  Rejeitadas por outras crianças devido a impulsividade (não esperam a vez,  não seguem regras, brigam com facilidade);

ü  Desajeitamento e sinais neurológicos leves (incoordenação motora, desorganização, destruição de objetos);

ü  Alterações específicas no desenvolvimento da linguagem (taquilalia ou demoram para iniciar a fala);

ü  Quando hiperativas apenas em um lugar por definição não é TDAH, pois é uma hiperatividade específica a estimulo ambiental, (como expectativa a festa de aniversário), é freqüente nos anos pré-escolares;

ü  É uma variante mais leve da hiperatividade invasiva característica do TDAH;

ü  A desatenção e impulsividade são constantes e aumenta de intensidade segunda infância, ainda mais na adolescência e tornam-se mais grave na vida adulta. É marcante o esquecimento no adulto;

 DIANÓSTICO DIFERENCIAL

- Transtorno de Conduta pode mascarar o TDAH

ü  Esses não sentem culpa, geralmente menos agitados e invasivos e não são empáticos, contudo mais impulsivos.
ü  Transtornos Emocionais: ansiedade, depressão e mania podem estar presente nessa faixa etária principalmente a partir dos 5 anos.
ü  Caso esses transtornos se manifestarem primeiro deve-se diagnosticar simplesmente o Transtorno Emocional
 
- Tiques:

ü  As crianças com tiques também podem ser hiperativas devido somente a ansiedade e sem TDAH.

- Transtornos invasivos de desenvolvimento:

ü  São agitadas, desatentas, autísticas, com maior comprometimento social, da comunicação, com comportamento e palavras repetitivas (estereotipias), ausência de abstração e espontaneidade

- Retardo Mental:

ü  Comportamentos não compatíveis a idade cronológica e dificuldade em aprender, são muito hiperativas e pouco impulsivas. Por definição não são portadores de TDAH.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL  ESSENCIAL

Condições psicossociais

ü  Abuso e/ou negligência;

ü  Má-nutrição;

ü  Violência;

ü  Situação caótica familiar;

ü  Provocações agressivas;

ü  Gozações excessivas (bullying);

ü  Fatores de risco perinatais (anóxia);

ü  Desintegração familiar;

DISTÚRBIOS MÉDICOS

ü  Deficiência auditiva e visual;

ü  Convulsões;

ü  Anormalidades genética;

ü  (Cromossoma x frágil, etc)

ü  Medicamentos e intoxicações;


ü  Anormalidades da tireóide

ü  Anemias;

ü  Deficiência de ferro;

OS FÁRMACOS AUXILIAM NO DIAGNÓSTICO

ü  Aos 6 anos de idade inicia-se o tratamento com metilfenidato. Ocorrendo a remissão da sintomatologia feche-se o diagnóstico de TDAH (75%).

ü  Persistindo ainda alguns sinais e sintomas deve-se pensar em ansiedade e depressão. Associa-se ao metilfenitado os antidepressivos.


ü  Ocorrendo piora da sintomatologia com administração do metilfenidato deve-se pensar em Transtorno Afetivo Bipolar.

ü  Reinicia-se o tratamento com moderadores do humor. Persistindo sintomatologia de desatenção associa-se aos moderadores do humor o metilfenidato.


ü  Pequenas porcentagens dos casos (>10%) não respondem aos fármacos.

ü  O diagnóstico de TDAH não está descartado. Deve-se pensar em TDAH com comorbidade: Transtornos de conduta (dificilmente respondem a fármacos), Transtorno de oposição desafiante.

 LEMBRE-SE:

ü  Bebês, crianças que começam a andar e/ou pré-escolares com temperamento difícil, inquietas correm um risco maior de desenvolver problemas em um período posterior da segunda infância, o TDAH.

ü  A maioria dessas crianças identificadas tardiamente como TDAH exibia um temperamento difícil e inquietude durante a primeira infância. Quando uma criança é inquieta, deve-se consultar um médico, um psicólogo ou uma equipe de educação especial.

O papel do médico é procurar por uma causa clínica, determinar a necessidade de testes clínicos e tomar decisões sobre a necessidade de tratamento.
Uma avaliação minuciosa de hiperatividade inclui informações sobre o histórico do desenvolvimento da personalidade, do desempenho escolar, do relacionamento com os amigos, do comportamento em casa e na escola e da condição clínica da criança. Não existe apenas um tipo de criança com TDAH, mas vários sub-grupos e transtornos sobrepostos, as chamadas comorbidades: depressão, distúrbios de conduta,  ansiedade, transtorno  afetivo bipolar.

Hoje fica claro que esse transtorno é uma entidade separada com etiologia própria e são excluídas as:
a) Deficiências Mentais
b) Esquizofrenias Infantis e Autismos;
c) Síndromes Orgânicas Cerebrais com Lesões do SNC;

A história de vida do pré-escolar e os antecedentes pessoais/familiares são os principais instrumentos diagnóstico para o TDAH, sempre associado ao conhecimento da psicopatologia evolutiva. Pois os sinais e sintomas mudam com a idade e se transformam com o tempo.

SÍNTESE

Transtornos hipercinéticos e/ou TDAH sempre começam cedo no desenvolvimento. Suas principais características são falta de persistência em atividades que requeiram envolvimento cognitivo, tendência a mudar de uma atividade para outra, falta de atenção e impulsividade. Esses problemas usualmente persistem através dos anos escolares e mesmo na vida adulta.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

Princípios e Práticas em TDAH .
Coordenação de Paulo Mattos & Luis
Augusto Rohde. ArtMed, 2003
Tratado de Psiquiatria da Infância e da
Adolescência. Coordenação de Evelyn
Kaczynshi & Francisco Assumpção Jr.
Atheneu, 2003
Problemas de aprendizagem. Enfoque
Multidiscipolinar. Coordenação de Carolina
A. R. Funayama. Alinea editora, 2008

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