Nos artigos
anteriores vimos como os sintomas do TDAH se manifestam e se combinam nas
várias etapas da vida, veremos aqui alguns instrumentos úteis que ajudam a
tornar mais consistente a suspeita do transtorno.
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Uma
vez justificada a suspeita, a consulta ao médico deve ser preparada e
agendada.
No final do capítulo analisaremos alguns aspectos do diagnóstico do TDAH.
É
importante relembrar que o TDAH é um transtorno mental de origem
neurobiológica e que o diagnóstico é um ato de competência e responsabilidade
médica. Portanto, só este profissional poderá confirmar o diagnóstico e
desenvolver estratégias para o tratamento.
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A suspeita
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Existem
numerosas escalas e questionários elaborados para orientar pais e mestres na
suspeita diagnóstica do TDAH. Os pais, auxiliados pelos mestres, respondem
perguntas referentes ao comportamento da criança nos vários contextos do seu
dia-a-dia.
A
partir de um determinado número de respostas positivas, que indicam a ocorrência
dos sintomas do TDAH, se estabelece um grau de probabilidade para o
diagnóstico.
Muitos
destes questionários apresentam alta confiabilidade, pois são aplicados e
testados por métodos científicos.
Analisaremos
aqui a tradução do SNAP-IV, validada pelos pesquisadores do GEDA (Grupo de
Estudos do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do
PRODAH (Programa de Déficit de Atenção/Hiperatividade do Serviço de
Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas de Porto Alegre/UFRGS).
Esta tradução pode ser encontrada no site da Associação Brasileira do Déficit
de Atenção (http://www.tdah.org.br/).
Para
cada item deve-se escolher o grau que melhor descreve a criança e assinalar o
boxe correspondente com um X.
Por exemplo, no primeiro item: não consegue prestar atenção a detalhes
ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas. Apenas uma
das seguintes opções deverá ser escolhida: não ocorre nem um pouco, ocorre só
um pouco, ocorre bastante ou ocorre demais.
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Observe
que enquanto os itens de
Se
foram assinalados ao menos seis boxes vermelhos e/ou seis azuis, há suspeita de TDAH.
Havendo
a suspeita, poderemos ter três situações diferentes:
1. Foram assinalados seis ou mais
boxes vermelhos e seis ou mais boxes azuis. Neste caso a suspeita é de TDAH
combinado, ocorrem tanto sintomas de desatenção quanto de
hiperatividade/impulsividade.
2. Foram assinalados seis ou mais
boxes vermelhos e menos de seis boxes azuis. A suspeita é de TDAH
predominantemente desatento, também denominado apenas como TDA, condição em
que os sintomas de hiperatividade/impulsividade não ocorrem ou são discretos.
3. Foram assinalados seis ou mais
boxes azuis e menos de seis boxes vermelhos. A suspeita é de TDAH
predominantemente hiperativo/impulsivo, condição em que a desatenção é menos
evidente.
Para
o diagnóstico final o profissional necessitará de outras informações que
serão analisadas adiante neste capítulo.
Sendo
consistente a suspeita, o passo agora é preparar-se para a consulta.
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Preparando-se para a consulta
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O
primeiro passo talvez seja o mais difícil, preparar seu filho para a
consulta!
Muitas
vezes a criança ou o adolescente não sabe o que foi fazer no consultório
médico. Não é raro recusarem dar informações, brigarem com os pais ou até
mesmo saírem da sala sem dar qualquer satisfação.
É
de extrema importância que estejam conscientes do motivo e da necessidade da
procura ao profissional. Durante a consulta suas fraquezas serão
reveladas, expostas e, para isso, é imprescindível a sua autorização e
colaboração.
Nesta
fase da vida, o portador de TDAH normalmente não tem consciência das suas
dificuldades ou alega os mais variados motivos.
Pais
sensíveis e dispostos para o diálogo conseguirão vencer esta difícil etapa
tendo como aliados a paciência e o tempo.
A
seguir estão enumeradas algumas dicas para os pais, que auxiliarão o
profissional a obter as informações necessárias para o diagnóstico:
1. Verifique se os comportamentos
assinalados no questionário também são observados em outros contextos além da
casa e da escola. Eles ocorrem estando a criança ou o adolescente com os
amigos, sem os pais por perto? Ocorrem na casa dos avós, na viajem com os
tios ou na companhia dos amigos? Ocorrem mesmo estando sozinho sem a
companhia dos outros?
2. Procure lembrar-se com que idade a
criança começou a apresentar cada um destes sintomas.
3. Avalie que tipo de conseqüências
estes sintomas provocaram na vida da criança ou do adolescente até aqui.
Chamamos isso de impacto. Para isso analise os vários contextos: vida
familiar, social, escolar, etc.
4. Consiga com a escola um relatório
sobre o comportamento e desempenho da criança ou do adolescente, suas
qualidades e deficiências, sua capacidade de atenção, sociabilidade, etc.
5. Recorde a história pregressa do
seu filho, recorra a possíveis anotações. Quais foram as condições da sua
gestação e parto? Como transcorreu o seu primeiro ano de vida, o desenvolvimento
físico e mental? Com que idade deu os primeiros passos, falou as primeiras
palavras, tirou as fraldas, se vestiu sozinho, reconheceu cores... Como vimos
antes, estes marcos do desenvolvimento serão importantes para o profissional
e no momento da consulta pode ser difícil recordar.
6. Lembre-se das doenças pregressas,
especialmente se motivaram internação hospitalar ou acometeram o sistema
nervoso da criança (meningite, traumatismo craniano grave, convulsão). Reúna
exames da época para que o profissional possa melhor avaliar a possível
correlação com o quadro comportamental atual.
7. Anote os problemas de saúde e o
eventual uso contínuo de medicamentos. Recorde-se de possíveis reações
alérgicas ocorridas no passado.
Agora
é hora de escolher o profissional.
Atualmente
muitos pediatras encontram-se capacitados e interessados no diagnóstico e
tratamento do TDAH. Converse com ele, se acompanhou seu filho desde pequeno
certamente terá uma visão privilegiada do seu desenvolvimento físico e
mental.
No
entanto, podemos considerar o psiquiatra e o neurologista da infância e
adolescência como os especialistas mais indicados para a abordagem do
problema.
Na
página da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.tdah.org.br),
encontram-se enumerados especialistas em vários estados brasileiros que se
dedicam ao estudo e atendimento de pacientes portadores de TDAH.
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TDAH: um diagnóstico clínico
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No
passado o médico enfrentava muitas dificuldades para fazer um diagnóstico
clínico.
Diagnóstico
clínico é aquele feito com base nos sinais e sintomas que um paciente
apresenta, diferente de um diagnóstico laboratorial que é dado a partir do
resultado de um exame. Tome como exemplos o diagnóstico de diabetes através
da dosagem de glicose no sangue, de uma infecção urinária pelo exame de urina
ou de uma pneumonia por uma radiografia.
Sobretudo
em Psiquiatria, os diagnósticos são feitos de forma clínica uma vez que os
transtornos não apresentam ainda marcadores biológicos que possam ser
identificados ou quantificados através de exames laboratoriais.
Em
Neurologia, numa escala menor, muitos diagnósticos também são feitos de forma
clínica, como é o caso da enxaqueca. Este diagnóstico, por exemplo, é
definido pelas características da dor de cabeça como o tipo de dor (latejante,
pulsátil e que piora com o esforço físico), a sua intensidade (moderada a
forte), duração dos ataques e os sintomas que acompanham a dor (náuseas,
vômitos e sensibilidade à luz e sons).
Ocorre
o mesmo no TDAH, trata-se de um diagnóstico clínico baseado nas informações
acerca das manifestações clínicas até aqui descritas.
No
entanto, até pouco tempo atrás, para um mesmo paciente em questão, o
diagnóstico de TDAH firmado por um médico muitas vezes não coincidia com o de
outro. Havia uma grande variabilidade de definições e interpretações para o
diagnóstico. O resultado era uma verdadeira confusão.
O
conhecimento científico ficava impedido de avançar uma vez que as pesquisas
não podiam ser comparadas, pois os critérios utilizados eram diversos.
Este
problema foi resolvido com o desenvolvimento de critérios operacionais para o
diagnóstico dos transtornos mentais, organizado e pela Associação
Psiquiátrica Americana e atualmente na sua quarta edição (DSM-IV).
Estes
critérios foram sendo aperfeiçoados, testados cientificamente e, aos poucos,
passaram a ser utilizados de maneira uniforme em todo o mundo. Isto propiciou
um avanço considerável no diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais.
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Critérios para o diagnóstico
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No
passado a hiperatividade era considerada o elemento principal para o
diagnóstico do TDAH. Na década de 70 o transtorno era chamado de Síndrome da
Criança Hiperativa ou Reação Hipercinética da Infância, isto porque
acreditava-se também que esta condição não ocorria em adultos.
Com
o avanço nas pesquisas e diagnóstico do transtorno, os conceitos mudaram e a
dificuldade de atenção passou a ser o sintoma central para o diagnóstico.
Além disso, o TDAH passou a ser mais claramente identificado em adultos.
Significa
dizer que para o diagnóstico de TDAH é preciso haver algum grau de
dificuldade de atenção, sem necessariamente estar presente a hiperatividade e
a impulsividade.
A
partir destas observações foi proposta uma classificação do TDAH: o
predominantemente desatento (ou também denominado TDA), o predominantemente
hiperativo-impulsivo e o combinado.
Como
definem os termos, no tipo predominantemente desatento os sintomas de
hiperatividade e impulsividade não existem ou são pouco evidentes e no
predominantemente hiperativo-impulsivo estes sintomas prevalecem sobre a
desatenção.
Já
no tipo combinado todos os sintomas se manifestam de forma exuberante, a
dificuldade de atenção, a hiperatividade e a impulsividade.
O
grupo combinado é o mais freqüentemente diagnosticado, em torno de
A
primeira etapa do diagnóstico compreende a constatação e quantificação dos
sintomas, como vimos no SNAP-IV.
Na
segunda etapa compete ao profissional verificar os seguintes pré-requisitos
para o diagnóstico:
1. Alguns dos sintomas necessariamente
se manifestaram antes dos sete anos de idade. Um adolescente com quadro
inédito de desatenção, hiperatividade e impulsividade iniciado há poucos
meses não apresenta TDAH.
2. Os sintomas ocorrem em mais de
dois contextos diferentes: vida familiar, escolar ou social.
3. Nestes vários contextos os
sintomas provocam um impacto negativo evidente sobre o portador: baixo
desempenho e retenção escolar, acidentes, infantilização, dificuldades de
sociabilidade, delinqüência, etc.
4. Outros transtornos mentais podem
cursar com os mesmos sintomas e confundir o diagnóstico de TDAH, por exemplo:
deficiência mental leve, psicoses e depressão.
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A importância do exame
clínico-neurológico
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O
exame clínico-neurológico do paciente é importante não apenas para afastar
outras possibilidades diagnósticas, mas também revelar anormalidades que
frequentemente são observadas na criança e no adolescente com TDAH.
Determinadas
lesões localizadas naquelas áreas cerebrais responsáveis pelo TDAH podem
provocar os mesmos sintomas: asfixia neonatal, hemorragia cerebral do
prematuro, encefalites, tumores cerebrais, etc.
O
exame neurológico deste paciente pode guiar a suspeita e determinar a
realização de exames de imagem do cérebro (tomografia ou ressonância
magnética).
Apesar
da sua rara ocorrência na infância e adolescência, o hipertireodismo
(funcionamento excessivo da tireóide) é outra condição que pode simular o
TDAH. Neste quadro a criança ou adolescente pode apresentar tremor, suor
excessivo, batimento cardíaco acelerado e anormalidades à palpação da
tireóide, localizada na parte da frente do pescoço.
Outras
condições clínicas gerais que devem ser afastadas são as anemias severas e
deficiências nutricionais.
Deficiência
visual e auditiva sempre deve ser pesquisada, ainda que grosseiramente, pelo
exame clínico-neurológico. Especialmente nas crianças mais novas,
anormalidades sutis podem simular o TDAH.
O
exame neurológico da criança e do adolescente com TDAH pode revelar
dificuldades de coordenação e de equilíbrio, baixa persistência na atividade
motora e excessiva movimentação corporal.
Estes pacientes freqüentemente
apresentam dificuldade para fixar ou rastrear um objeto com o olhar ou
permanecer com os olhos fechados. Estes e outros sinais podem indicar
deficiência nos circuitos responsáveis pela capacidade de atenção
visual.
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Exames laboratoriais
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Em
algumas situações clínicas os exames laboratoriais serão de grande utilidade:
tomografia e ressonância magnética cerebral, dosagem dos hormônios da
tireóide, hemograma e outros exames de rotina.
Como
já vimos, a intoxicação pelo chumbo pode provocar na criança pequena um
quadro semelhante ao TDAH. Embora sua ocorrência esteja relacionada ao
contexto ocupacional, por exemplo, locais onde se manipula bateria de
automóveis, recentemente pudemos assistir num programa de grande audiência na
televisão, que muitos filtros domésticos permitiam a passagem de alta
concentração de chumbo para a água.
Estudos
detalhados devem ser urgentemente realizados para averiguar a veracidade desta
suspeita e sua possível correlação com o TDAH.
Nos
casos de forte suspeita podemos dosar em laboratório a quantidade de chumbo
no sangue.
A
criança com suspeita de deficiência visual ou auditiva deverá ser encaminhada
para avaliação otorrinolaringológica e oftalmológica.
O
eletrencefalograma quantitativo pode revelar um alto teor de determinadas
ondas (alfa e teta) nas regiões anteriores do cérebro. Esta e outras
características neurofisiológicas já foram exaustivamente estudadas, mas não
são específicas do TDAH, ou seja, a especificidade não é de 100%.
No
entanto, se o profissional pretende iniciar o tratamento da criança com
medicamento psicoestimulante deve certificar-se através do eletrencefalograma
se ela não apresenta o que popularmente é chamado de foco.
O
uso de psicoestimulantes pode ser contra-indicado em Indivíduos que
apresentem foco epiléptico, pois o mesmo pode ser ativado.
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A importância das avaliações
complementares
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A
avaliação da atenção através de testes neuropsicológicos clássicos ou
computadorizados pode ser útil, não para dar o diagnóstico, como vimos ele é
clínico, mas para se ter mais detalhes quantitativos e qualitativos do
déficit atencional.
Temos
no Brasil o TAVIS-2R que é um teste de atenção computadorizado normatizado na
população brasileira, ou seja, os valores de normalidade foram estabelecidos
a partir dos resultados obtidos em grandes amostras de indivíduos de várias
idades no nosso meio, o que aumenta sua confiabilidade.
Através
deste teste podemos avaliar o tipo e o grau de desatenção que a criança ou
adolescente com TDAH apresenta, ou seja, seu perfil atencional.
No
decorrer do tratamento ou em situações de retirada da medicação o teste pode
ser repetido, trazendo mais informações para o médico sobre o andamento do processo.
A
avaliação neuropsicológica examina as várias habilidades cerebrais envolvidas
no processo de aprendizagem: quociente de inteligência, capacidade de
atenção, cálculo, memórias, linguagem, coordenação visual-espacial e outras.
No
contexto do TDAH, a avaliação neuropsicológica será de grande importância nas
seguintes situações: quando é necessário afastar a possibilidade de
deficiência mental, na suspeita de dislexia ou de outros distúrbios
específicos da aprendizagem, na criança superdotada e nos casos de TDAH que
não respondem adequadamente ao tratamento medicamentoso.
A
avaliação fonoaudiológica será muito importante nos casos em que a criança
com TDAH apresenta atraso na aquisição da linguagem, distúrbios da fala (fala
acelerada, alterações da modulação do volume da voz), dificuldades na escrita
ou leitura e, principalmente, se há suspeita de dislexia.
Nas
crianças com TDAH e dificuldades na aprendizagem, a avaliação psicopedagógica
poderá ser útil para examinar dificuldades específicas, mas será fundamental
na elaboração das estratégias de tratamento.
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Texto
extraído do livro Levados da Breca
de
autoria do mesmo autor do artigo
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