sábado, 17 de maio de 2014

O PROBLEMA DE ATENÇÃO NO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE – TDAH – E A IMPORTÂNCIA DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA


Francisca Maria Alves de Andrade[1]

Os achados na literatura especializada referem que a atenção é uma função cognitiva complexa e que nela estão implicadas sub-funções como a percepção, a intenção e a ação. É por meio da atenção que conseguimos focalizar em atividades conscientes que possibilitam a percepção, a memória e a aprendizagem, pois ao direcionarmos a atenção para um determinado estímulo promovemos uma filtragem dos estímulos indesejados. O que torna a atenção, a base sobre a qual se organiza a direção e a seleção dos processos mentais. De acordo com o tipo de atividade predominante a atenção pode ser classificada em sensorial, motora e intelectual.
Apesar de esta classificação ser mais em caráter didático, pois em qualquer de suas formas conhecidas a atenção sempre implica em atividade intelectual, quer seja orientando os movimentos ou dando sentido às percepções sem perder o seu caráter de independência. A atenção apresenta aspectos inatos e aspectos que se desenvolvem após o nascimento. Nos primeiros meses de vida predomina a atenção involuntária, atraída pelos estímulos mais significativos.
No estágio de desenvolvimento que vai mais ou menos dos 18 aos 28 meses, a resposta a um estímulo novo suprime com facilidade a forma superior de atenção socialmente organizada que começou a aparecer. Uma instrução falada é ainda facilmente sobrepujada pelas informações visuais. Por exemplo: Em resposta a uma pergunta simples do tipo onde está a boneca? A criança dirige-se para procurá-la, no entanto, se for colocado ao seu lado um objeto não familiar, ao mesmo tempo em que se solicita a boneca, a criança ao invés de se deter na boneca se detém no outro objeto.
Durante toda a vida a visão constitui-se num sentido que tende a sobrepujar os demais, e por isto, objetos inseridos no campo visual tendem a atrair a atenção com grande facilidade. Somente na idade escolar está estabelecido um comportamento seletivo estável subordinado á fala de um adulto e a fala interior da própria criança. Muitas vezes a criança lê em voz alta como forma de reforçar sua atenção pela entrada de informações auditivas.
A atenção desenvolve-se gradualmente em ritmo diferente de uma criança para outra, sendo que as crianças com Déficit de Atenção mostram uma capacidade para manter a atenção seletiva inferior a de seus colegas de mesma idade e sem problemas de aprendizagem. O padrão de distração de uma criança de sete anos com TDAH pode assemelhar-se ao de uma criança de três ou quatro anos que por falta de desenvolvimento de seu processo de atenção voluntária desvia facilmente o foco de sua atenção.
Muitos fatores interferem na focalização da atenção entre eles: A afetividade; as condições de sono; o desenvolvimento da linguagem; as condições nutricionais; doenças mentais (como a depressão). Dentre os diversos problemas que podem comprometer a atenção e as demais funções a ela relacionadas está o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Este transtorno é um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção; a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade. Pesquisas tem demonstrado que no Brasil de 3a 6% da população com idade entre 7 e 14 anos apresentam TDAH.
No TDAH - as capacidades de manter o foco da atenção voluntária pelo tempo necessário, retomar o foco após uma distração, prestar atenção a duas coisas ao mesmo tempo (atenção dividida), mudar o foco ou desfocar, também voluntariamente estão prejudicadas. Olhando de fora, pessoas com TDAH parecem cansar das coisas com facilidade – o que fortalece os preconceitos de falta de vontade, fraqueza de caráter, etc. Quando o que ocorre de fato é que elas são levadas de um novo foco de interesse a outro foco, incessantemente. Em decorrência, não conseguem fazer nada até o final.
            Quando se fala em TDAH é comum se fazer associações àquela criança que não para quieta, que é elétrica, que fala em excesso e incomoda demasiadamente. Por mais que os estudos esclareçam que o transtorno se caracteriza por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, e que a criança não precisa apresentar os três sintomas simultaneamente para ter o transtorno, o sintoma alvo da preocupação de pais e educadores continua sendo a hiperatividade. Enquanto a criança que apresenta apenas o sintoma da desatenção vai passando despercebida porque o seu comportamento não chama a atenção, não incomoda. No entanto, embora a hiperatividade incomode os pais, professores e outras crianças, é o único sintoma que tende a diminuir com a idade, apesar de muitos portadores de TDAH continuarem apresentando ao longo da vida, uma movimentação corporal excessiva e desnecessária.
            Contudo, se com o passar do tempo a hiperatividade tende a diminuir, com a desatenção o processo é contrário. Estudos referem e as experiências comprovam que com a idade e a vinda de atividades de maior demanda, como estudar e trabalhar, a dificuldade de atenção fica mais evidente e mais fácil de ser percebida por todos e pelo próprio paciente. Quando presente em maior grau provoca dificuldade importante no aprendizado e memória, retenções e abandono escolar, com consequências muitas vezes irremediáveis para outros setores como a autoestima e a vida de relacionamentos. Pesquisas comprovam que
17 a 45% dos adultos com TDAH apresentam problemas com álcool e o risco de se viciar em  outras drogas é o dobro para quem tem o transtorno.
O trabalho do psicopedagogo com crianças com TDAH é muito importante, pois, auxilia atuando diretamente sobre a dificuldade escolar apresentada pela criança, suprindo a defasagem, reforçando o conteúdo, possibilitando condições para que novas aprendizagens ocorram e orientando pais e professores no desenvolvimento de estratégias de manejo. A sua tarefa primordial é a de afastar o sintoma e inserir a aprendizagem lúdica.
Sabendo-se que todo trabalho deve começar pela relação vincular, deve-se procurar trabalhar o componente afetivo envolvido nas atividades, mostrar-lhes a importância do aprendizado escolar para suas vidas, da compreensão de regras e do controle de sua própria conduta. As técnicas mais utilizadas são os jogos de combinações intelectuais, como damas, xadrez, carta, memória, quebra-cabeça, entre outros. Os jogos com regras permitem à criança, além do desenvolvimento da capacidade de focalizar a atenção, o desenvolvimento social quanto a limites, à participação, o saber ganhar, perder, o desenvolvimento cognitivo, e possibilita a oportunidade para a criança detectar o tipo de erro que cometeu, tendo a chance de refazer, agora, de maneira correta. Podem ser usadas técnicas que envolvam escritas, como escrever um livro e ilustrá-lo, admirar seu trabalho final, faz bem para a autoestima.
      Considerando o exposto, faz-se necessário que a pessoa portadora, os pais, educadores, enfim, todos precisam aprender sobre o TDAH, saber como ele se apresenta, como compromete o modo de ser e de agir da pessoa no cotidiano, suas reações e, principalmente que não é culpa de ninguém, nem da pessoa e nem dos seus pais.


[1] Psicopedagoga Clínica e Institucional. Especialista em Atendimento Educacional Especializado – AEE. Especializanda em Neuropsicopedagogia Clínica.

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